segunda-feira, 17 de maio de 2010

O GRITO



Esse é um grito de socorro.
Um grito de frente o espelho, de mim pra mim mesma.

Sou gorda. Sou gorda. Sou gorda.

Com o agravante de ser baixinha, alternativa, esquisita e japonesa, nada poderia ser tão constrangedor e minoria.
No auge da minha maturidade feminina e espiritual, isso deveria ser apenas uma piada. Mas não é. Frases do tipo: ‘gordo não escova os dentes, pois eu nunca vi um numa propaganda de pasta de dentes’ já não fazem o mesmo efeito que sempre fizeram. Resumindo, não acho mais graça ficar fazendo piadas de gordinha só pra justificar minha preguiça e falta de disciplina.
Gastar o triplo em lojas como Palank não me deixam com a auto-estima elevada. Comprar apenas sapatos e bolsas pra suprir meu desejo consumista, desde que não posso usar tudo que está na moda não é mais tão divertido assim.
Por outro lado, comer fast-junk-rotten food, marcar presença em feijoada de amigos, convidar todo mundo pra tomar um café na Paulista, tem se tornado uma rotina na minha vidinha calórica.
Assumo que não sou uma pessoa tão feliz o tempo todo quanto aparento, não sou tão sorridente assim, não sou engraçada, não sou tão boazinha como acham que sou. Sou apenas uma gorda que busca defesas pra não ser chamada de chata. As pessoas não toleram gordos chatos.

Já houve fases em que emagreci bastante, e pude perceber o quanto esse mundo é cruel. Nessas fases, tinha mais admiradores, ficantes, sex-buddies e convites para festas. Não, não sou fútil a ponto de pensar que ter tudo isso é realmente importante. Mas entendo que só tive tudo isso porque me sentia melhor. Porque me amava um pouco mais. Então, estou oficialmente dando um basta no pensamento: “Me amo porque sou magra.”

Quero ser magra por me amar.

Nada radical. Nunca vou ajuntar dinheiro o ano todo pra fazer uma lipoaspiração. Nunca vou deixar minha vida social de lado para correr numa esteira. Nunca vou relacionar o fato de estar solteira com o fato de não ter o corpo à lá Ana Hickman. Sou interessante a meu modo, tenho cultura o suficiente pra sair bem em qualquer situação, e tenho amigos maravilhosos que me fazem esquecer de problemas de cunho esteta.

Tenho fé.
E é exatamente essa fé que me faz querer cuidar melhor do meu corpo, ingerir alimentos que contribuam com meu bem-estar. Assumo um compromisso comigo mesma, oficialmente, de que a partir de hoje, me cuido porque me amo – até então, me cuidava pra alguém me amar. Essa é a diferença. É isso que chamo de maturidade.

Comprei ração humana (argh), fiz minha matrícula na academia do bairro, e vou trocar minha viagem de férias por algumas semanas num SPA. Digo adeus ao Mc Donald’s, ao Burger King, à feijoada do Ricardo, aos doces da Dona Sônia, e aos bolos trufados dos aniversariantes da firma. Digo adeus à minha baixa auto-estima, à minha preguiça e à minha falta de disciplina.

E prometo a mim mesma não me tornar uma patricinha chatinha consumista e sem cultura no dia em que me tornar magra e prometo não esquecer o meu passado.

O problema vai ser quando eu perceber que ser gorda nunca foi um problema. Mas só sendo magra que vou saber.

Boa sorte pra mim.