sábado, 23 de outubro de 2010

Eu e os homens

Nasci no meio de homens. Tenho dois irmãos e cresci no mesmo quintal que mais dois primos. Todos homens. Eles foram meus primeiros amigos, parceiros de traquinices e brincadeiras. Aí eu cresci. E de repente, as mulheres eram estranhas pra mim. Claro, por uma questão de organização e aceitação social, fiz amizade com elas e passei a conhecer um pouco mais das suas obscuras e dramáticas realidades. Tudo bem, nada mal. Tínhamos muitas coisas em comum. Ah, sim, eu também era uma delas.

Meu pai e meu irmão mais velho sempre foram fãs de Madonna. Eu tinha 10 anos quando meu irmão ganhou o disco ‘True Blue’, e o ouvia todos os dias. Aos 15, eles assistiam muitas vezes seguidas o show ‘Blond Ambition Tour’. E eu ouvi muitos comentários do tipo: ‘Eu admiro mulheres como a Madonna’. Fudeu. Quis ser Madonna pro meu pai e meu irmão me admirarem. Fudeu mesmo. Assisti 1298 vezes ‘Truth or Dare’, e no mesmo ano eu arrumei meu primeiro grupo de amigos gays.

Amo rodinhas de amigos falando de futebol e bunda. Acho engraçadíssimo a forma que eles enxergam o mundo, e a forma prática de se resolver questões que nós mulheres levamos dias pra começar a pensar. Eles não precisam de chocolate, não tomam fluoxetina, fazem xixi em pé e em qualquer lugar, e abrem potes de azeitona como ninguém. Deve ser fácil ser homem.

Gosto muito de sexo com homens. Sou apaixonada pelo falo. Mas na minha opinião, acho que homens bissexuais fazem sexo melhor do que heterossexuais. Minhas amigas acham que é porque eu ainda não conheci um homem de verdade. Um que vai me tirar do sério e me deixar de quatro feito uma shitsu treinada e obediente. Talvez seja por isso que todas as vezes que copulei com um homem heterossexual sempre foi na mesma condição ‘somos amigos e estamos fazendo sexo, não espere nada de mim’.

Amei homens que me faziam competir com outros homens. Lembram da minha infância? Pois é. Não aprendi a competir com mulheres. Tenho medo. E claro, me sinto inferior a pelo menos 98% delas. Não deveria mesmo me sentir assim. Mas sou mulher, e sou complicada.

O que é realmente bom de estar no meio dos homens é que eles nunca tentam me descomplicar, me definir e me escutar. Porque a mulher sou eu, e eu faço tudo isso com eles.

Sim, sou mulher, egoísta, complicada, egocêntrica e com baixa auto-estima.

Mas acredito em Deus. E sei que, dentro de Seus planos eu sou assim porque preciso aprender alguma coisa com isso. Um dia eu descubro o quê.

E Deus é tão espertinho que colocou 33 homens juntos no Chile, e todos saíram se abraçando depois de 67 dias presos num buraco. Isso ratifica minha teoria doidinha.

Imagina se fossem 33 mulheres?
O fim poderia ter sido beeem diferente.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ensaio de uma vida de merda




Eu tenho um blog. (Dãh)
Sou seguida no twitter.
Sou vista e opinada no facebook.
Inacreditavelmente ainda tenho um perfil no orkut.
Estou no linkedin.
Tenho dois MSNs.
Sou cliente prata do par perfeito.

Como sempre eu me pergunto: Pra quê? Será que precisa de tanta coisa assim só pra dizer que eu tenho uma vida de merda?

Sou pseudo-escritora. Devo ter mais textos que leitores hoje em dia. Não sei pra que ter tantas páginas com as minhas experiências e opiniões se a cada dia chego à conclusão de que minha vida é a coisa mais ordinária que eu conheço. A mais merda, a mais fétida.

É um agregado de memórias esfumaçadas na minha mente. Um passado distante, mas que ainda inspira textos e frases de até 140 caracteres.

Mas o presente é rotineiro. É igual. Sempre.
Nada a reclamar de verdade. Nenhum problema realmente sério. Família, dinheiro, amigos, vida social, trabalho, espiritualidade, amores, tudo bem, tudo estável.

Reclamo do calor. De fome, da chuva, de cansaço, do cheiro no ônibus, do último filme ruim do Shyamalan, de gente que pensa diferente de mim, de paqueras mal-sucedidas, e de falta de sexo. Nada que realmente importe de verdade. Futilidades de alguém de vida estável.

E onde então se encontra aquela mulher ‘doidona’, que tem frases de efeito, boca suja e sempre dá a entender que passou a noite numa suruba de 390 pessoas bezuntadas em azeite de oliva? Hein?

Pra que manter essa imagem? Na vida real eu sou apenas aquela menina sozinha lendo um livro num canto escuro de uma cafeteria. Sou aquela que foge pro Ibirapuera no meio da tarde quando precisa ouvir o silêncio. Sou aquela que come chocolate escondida, achando que assim não engorda. Sou aquela que chora enquanto toma banho. Sou aquela que reza duas vezes por dia, e quando esquece tem medo de ser punida.

Caralho. Eu sou normal. Minha vida é normal.

E o que está fora do lugar então? Por que me sinto tão diferente?
É diferente por dentro.
É fácil ser diferente agindo de forma diferente, se penteando diferente, se vestindo diferente. É simples.
Difícil é ser diferente agindo como um normal, tendo uma vida regrada, um trabalho corporativo, e participar de uma comunidade religiosa.
É conseguir viver em sociedade, aceitar o mundo que vive, respeitar as vidas alheias, e mesmo assim ser diferente, pensar diferente, ter opiniões diferentes.

Minha vida é de merda, é sim. Como a de todo mundo.
Sempre lutei contra isso, nunca achei que teria uma.

Hoje eu gosto dessa merdinha que vivo. Dessa rotina cheia de planejamentos metódicos e assertivos. Desse dinheiro controlado, e horários marcados. Essa merda de rotina me faz bem.

Resignação.

Eu aceito minha vida de merda.