segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Qualquer semelhança não é mera coincidência

(Era pra ser apenas uma conversa de elevador, sem intenção de nada)

- ‘Feliz dia dos pais’.
- Não sou pai, nem ao menos sou casado.
- Quer um chiclete?
- Mas é o último.
- E qual o problema?
- Se eu chupar, eu não caso.

(Droga,ele falou as duas palavras mágicas, numa mesma frase. Chupar e casar.)


- Não sou supersticiosa.
- Você acha que nos conhecemos por acaso?

(Por favor, páre de me olhar assim, páre de me tocar todas as vezes que passa por mim.)

- Acho que vai chover.
- É, tá precisando. Essa seca tá me matando.
- Tá na seca, é?
- Sim, bastante.
- Quer tomar uma chuva comigo qualquer dia desses?

(Isso é um convite pra um encontro pseudo-romantico-sexual?)


- Só se você me prometer que continuaremos amigos. E que será uma chuva passageira, de verão. E que nunca, em hipótese alguma, alguém fique sabendo disso.
- Fechado.

(Preciso marcar depiladora e pedicure)


- Hoje faz um mês que nos conhecemos.
- O tempo passou rápido.

(Mais uma semana de salão de beleza e minha paciência se esgota)

- Vamos dar uma volta qualquer dia desses?
- Claro que sim, mas essa semana não dá, estou atarefado.

(Preciso desenvolver minha tolerância)

- Essa semana dá?
- Também não.

(Paciência + sabedoria = elevação do espírito)

- Preciso falar com você.
- Pode falar.
- É particular. Preciso te pedir algo.

(Eu preciso de um chiclete. Urgente.)

- Pode pedir.

(Um beijo)

- Me empresta uma grana?

(Filho da puta)

- Claro. Toma.
- Obrigado. Amanhã eu te devolvo.
- Ok, sem problemas.

(Até hoje, sem o beijo, sem o passeio e sem o dinheiro)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ainda somos os mesmos

E eu decidi tirar férias de você. Decidi que queria saber como era a vida sem você.

O prazo seria de um ano. Mas a primavera chegou e com ela veio o cheiro do vento, do mato, da falta de chuva, dos almoços ensolarados e fins de tarde gelados. Veio o cheiro do seu hálito. Veio o nosso cheiro juntos.

A reaproximação foi fácil, simples e assertiva. Eu disse oi e você abriu seu sorriso enigmático e me aceitou de volta com apenas um olhar e um aceno de cabeça. A primeira frase da sua boca foi aquela que esperei ouvir por, talvez, toda a minha vida: Eu entendi seu silêncio e te respeitei.

A verdade é que nada mudou tanto assim. Melhorei minha aparência e meu coração. Tive mais tempo pra outros amigos, escrevi mais, li mais, vi menos filmes, falei menos sobre filosofia e critiquei menos a burguesia. Talvez até tenha me inserido nela. Talvez.

Ainda tomo chá todos os dias, durmo com pijama do Piu-piu, minha calcinha favorita ainda é aquela preta sem costura, ainda uso o mesmo All Star roxo e passo os 289 cremes antes de dormir.

Continuo comendo o Cheddar Mc Melt e tomando Coca Zero achando que não vou engordar. Continuo rejeitando peixe cru e cebola na salada. Ainda insisto no celibato experimental. Ainda insisto em me apaixonar uma vez por mês. Ainda sonho com adoção.

E fico feliz de saber que dessa vez quem mudou foi você. É bom te ver mais sério, com mais bagagem, com experiências de quem rodou o país inteiro e viu coisas que jamais terei oportunidade de ver.

Fico grata por você ainda estar do meu lado e me ensinar tanto. Me fazer rir tanto. E não me fazer chorar.
Por você ainda me amar, me respeitar, me admirar e confiar em mim.

Vejamos agora o que iremos aprender um com o outro.
Até que o inverno chegue novamente e nos peça por mais dias de silêncio e perdão.