domingo, 31 de janeiro de 2010

TOOL ME

Sou aquele alicate de unhas mal-afiado, que deixa as unhas mais bonitas, porém as faz sangrar.
Sou também aquele último fósforo da caixa, que acende bem o cigarro e o fogão, mas se precisar mais acabará queimando os dedos.
Sou o sapato velho, cheio de buracos, sujo e fedido, porém sou a melhor opção nos dias mais cansativos.
Sou aquela esteira, que chegou como a solução de problemas, e hoje é apenas um lugar onde se estica o casaco molhado.
Eu sou o primeiro computador. Aquele que revolucionou vidas, mas ao ser comparado aos de hoje, apenas envergonha.
Sou um caderno de caligrafia, onde todas as páginas estão preenchidas.
Às vezes sou aquela fita VHS, onde está gravado o último capítulo de uma novela.
Sou um bicho de pelúcia velho, que ao olhar, traz lembranças lindas, mas ao chegar perto, faz espirrar.
Sou um carro conversível em dias de chuva.
Sou alimento perecível pós-vencimento.

Sou apenas um reflexo.

Portanto, trate-me como um espelho quebrado. Que além de dar sete anos de azar, ainda dá muito trabalho pra se jogar no lixo.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Fui para o interior.

Brinquei de mês, pulei corda, abri gaiolas.

Até apanhei da minha mãe, com aquela vara de pescar do meu pai.

Mas, não me machuquei e me escondi embaixo da cama pra ela não me alcançar.

Coloquei pés e mãos na terra vermelha e úmida.

Cantei.

Dancei.

Chorei.

Chorei por descobrir que meu interior já havia se esquecido de tudo isso.

Chorei por ter tido a sorte de ter pessoas que me fizeram lembrar esse meu interior.

Mesmo sendo um interior tão triste.

Até onde você mostraria o seu?

(Texto de apresentação da peça teatral 'Interior' do grupo Tusp)