sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Verão

A verdade é que eu tenho medo do verão. Não é questão de gostar ou não gostar. É o medo mesmo. O verão sempre traz coisas de volta. Traz cheiros, lugares, objetos. E aves. E pessoas.

E esse período me faz sair por aí, sem rumo, sem hora pra voltar. Apenas para poder sentir a brisa fresca penetrando minhas roupas e esfriando meu sangue. Apenas para ter, por algumas horas, a sensação de liberdade, sentindo o vento e a chuva entrando pelas janelas daqueles quartos escondidos no meio dessa multidão de quartos.

E são exatamente nessas fugas que eu me encontro. Encontro aquilo perdido dentro de mim mesma. Aquilo que aparece em anos bissextos, me dando o direito de viver um dia a mais. Some, fica anos escondido, para ser chamada de novo. Chamadas inesperadas em busca da montanha mais alta, com o vento mais forte, com a lembrança mais bela de seus olhos.

Naturalmente, o verão acabará. As folhas e o cheiro do outono voltarão e outras lembranças e outras pessoas também. As aves irão embora, levarão o calor e a busca do ar fresco para outros continentes.

Encontrarei alento em outros lugares, em outros objetos. Em outras aves. Em outras pessoas.

Contudo, intimamente, secretamente e amedontramente, aguardei outro verão. Se ele virá ou não, já não é mais importante. Esse ano, o calor não tomou apenas a minha pele. Cravou meu sangue.

E no sangue, a memória é eterna.