domingo, 12 de junho de 2011

Finalmente.

... e foi no meio daquelas risadas que acabam virando choro que ela entendeu que em sua vida nada seria diferente. Por que diabos agora seria diferente? E mais uma risada, e mais um grito de dor. Tudo tão desesperadamente repetitivo que até mesmo aquela dor no estômago já não doía mais. Nem aquela tremedeira assustava mais. 'É sempre assim'.

E bebeu um gole daquele café extra-forte, puro, sem nada para adoçar. Na esperança de que anularia um pouco o amargor da língua. O amargor das palavras não ditas, dos beijos não dados. O doce amargor do desejo. Do único dia do ano em que ela desejava não acordar.

‘Por que sofrer tanto assim por uma data tão comercial, materialista e fútil?’. Não, esse era um pensamento radical demais pra quem tinha o desejo de uma alma mais afetuosa e aquecida. Concluía então, que sua pressa e afobação eram as grandes culpadas de tanto amargor. Aquela pressa que a fazia se apaixonar com tanta rapidez, tão instantaneamente quanto seu café. Aquele desejo de ser amada por qualquer pessoa. Qualquer um que a endereçasse um olhar terno, e uma mão em seus ombros. Não era a pessoa que ela queria. Era simplesmente a vontade de ter alguém. A vontade de ter alguém para cuidar. A culpa da maternidade tardia. As conseqüências das escolhas da juventude.

Ela já não se cabia mais de tantas perguntas quando começou a rir de novo. Rir, rir e rir. E conseqüentemente, chorar. Olhou-se no espelho e tentou ser grata com aquilo que via. Não havia se penteado ainda e ao redor de seus olhos ainda permaneciam os restos da maquiagem da noite passada. O inchaço resultante das lágrimas e o riso doloroso se misturaram e ela gostou do resultado. Um belo rosto. Sentiu que nada precisava para se sentir mais bela. A beleza de aceitar e saber rir (mesmo que em meio a choros ridículos) que tudo está como deveria estar. Que nunca havia sido tão feliz quanto estava sendo naquele momento. Que soube ser grata por ter acabado de entender, finalmente, que a dor não é necessariamente um mal.

Adoçou o café com mais açúcar que o normal e bebeu.