quinta-feira, 24 de março de 2011

Experienciando, experimentando, expiando, aprendendo e mais uma vez, concluindo

Eu consigo viver sem esmalte nas unhas. Dói os dedos no começo, faz falta, parece que estou nua. Mas aprendi que não preciso deles pra viver, e ninguém gosta mais ou menos de mim por causa disso.

Ter amigos é maravilhoso. Mas provei que ficar sozinha é sempre uma boa solução pra quem está eternamente em busca de algo. Quem gosta da minha companhia e gosta de mim entende. Continuo amando todos da mesma forma. A presença é constante em meus pensamentos, minhas memórias e orações.

Internet, redes sociais, ultra-exposição são divertidos. Mas não são essenciais pra minha sobrevivência. Vicia, alucina. Informa pouco e enerva muito. Desnecessário contar que acordou, comeu, peidou, trabalhou e dormiu todos os dias.

Ver TV é desnecessário também. Principalmente tv aberta. Filmes, documentários, musicais agregam cultura e informação. Melhor que o Datena pedindo pena de morte e te fazendo ter ódio de gente que você nem conhece. Melhor que novela brega com final feliz. Futebol e F1 continuam sendo minhas únicas horas de alienação, mas sem fanatismo, sem sofrimentos, sem discussões. Há duas semanas não vejo praticamente nada. Li 4 livros e dormi bem melhor.

Ter fé é bem melhor do que não ter. Melhora sua vida em todos os aspectos. Acreditar que existe algo superior e que você pode falar sozinho no seu quarto com seus amiguinhos transparentes não significa que você é louco.

Ter amigos íntimos de classe social muito acima de você também não é tão agradável. No final, você sempre terá que inventar alguma desculpa pra não ir aos eventos, pois não tem dinheiro suficiente. E lembre-se, você ainda corre o risco de ser a ‘amiga pobre que vai estragar as viagens dos ricos porque não tem dinheiro pra viajar junto’. Faz mal pra autoestima, pros bolsos e pro ego. Por favor, entendam: não tenho raiva de quem tem mais dinheiro que eu. Apenas fazem parte de um universo diferente do meu. E sempre convivo muito bem com todos ao meu redor, de forma respeitosa e carinhosa.

Perdi muitos, muitos quilos e continuo solteira, temporariamente celibata e em busca de um amor. Pois é. Ser gorda nunca foi o problema. O problema é a falta de homem mesmo. Homens de atitude, solteiros, saudáveis e espirituosos são, na maioria das vezes, homossexuais.

Já não aceito ser amante há um bom tempo. Concluí que ser amante é falta de amor-próprio e só acumula energias negativas.

Praticar exercícios físicos é bom, é maravilhoso. Sem excessos, sem obrigação. Melhor e mais barato que terapia.

Provei que posso viver sem álcool no organismo. Ainda luto contra a necessidade de nicotina, mas sei que já consigo viver sem ela.

Ser loira é legal. Porém, não significa que vão gostar mais ou menos de você por isso. Há homens que só procuram por mulheres loiras (muito disso é culpa de Hollywood). Experimentei ser loira por 2 meses. Não fiquei mais rica, não desencalhei e nem fiquei mais inteligente. Ao contrário, meu cabelo ressecou, gastei mais com produtos específicos e salões de beleza.

Concluo que não é dificil ser careta, fisica e espiritualmente saudável sem deixar de ser autêntica. Melhora sua conta bancária e seu nível vibratório.

segunda-feira, 14 de março de 2011

CONCLUINDO

Você chegou assim, como quem não quer nada. Sem avisar, sem bater, sem chamar.

Simplesmente apareceu e começou a mudar a minha rotina. Aquela rotina que preservei por tanto tempo, com tranquilidade, alegrias leves assim como as tristezas. Tudo estava bem, e você veio. Pra mexer, chacoalhar, sacudir todos os órgãos do meu corpo.

Chega a ser animalesca a sensação de estar perto de você. A vontade da carne. Tudo grita dentro de mim, ardendo de desejo, de vontade de extravasar esse sentimento sufocado. O que fazer?

Absolutamente nada. Não há nada a fazer.

Pra começar, o sentimento é de cunho animal. Segundo, eu não fui sincera com meus sentimentos, e terceiro, não respeitei todas as minhas vontades.

Você me encostou na parede e me ofereceu aquilo que todos sempre me oferecem. Eu te daria um pouco de prazer e você me retribuiria com um coração partido. E te daria o gozo e você tiraria minha paz.

Não há nada a querer.
Não quero ninguém que me deixe gritando por dentro, que me faça querer extravasar nada.

Quero um amor calmo, silencioso e pacífico. Quero um amor aberto, sem nada a esconder.
Há muito o que desejar? Sim. Muito. Seu cheiro, seu sorriso, seu corpo. Eu desejo muito tudo isso. Assim como desejo aquela cobertura nos Jardins, assim como desejo acordar ao lado do Johnny Depp. Apenas fantasias que não me fazem sofrer. Você se transformou em minha fantasia. Das mais sujas, mais sacanas, mais luxuriosas.

Não há mais nada a dizer.
Adeus.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Gênese

Eu tinha uma melhor amiga. Vamos chamá-la de Clarissa, pois sempre gostei desse nome e quero muito preservar a imagem de minha amiga, hoje casada e mãe de dois filhos lindos.

Quando nos conhecemos, nossas vidas eram cheias de ‘nada’. Não fazíamos absolutamente nada naquela época. O maior feito foi ter passado no ‘vestibulinho’ da escola técnica de secretariado. Não tínhamos namorados, vida social, amigos e viagens. Ela era fã de Vanilla Ice e eu, de New Kids On The Block. Não tínhamos Nike Air Rosa Choque, o que nos excluiu de todas as atividades extracurriculares. Não depilávamos o buço e não tirávamos sobrancelha. O único menino que ficou a fim da gente (isso mesmo, da gente) tinha cara de porquinho. Ah, santa adolescência.

Certo dia, esse nada se transformou em algo. Em algo importante. Muito importante. Fui pra casa dela fazer trabalho de escola, estávamos batendo ele à máquina (de escrever, lembram?) e preocupadas com nossos ‘frufrus’ verde-fluorescente da Pakalolo. Naquela época a Elke Maravilha tinha um programa de entrevistas a tarde no SBT. E nessa tarde, ela entrevistou uma figurinha muito estranha, mas que nos deixou boquiabertas e com os olhos vidrados. O nome da entrevistada era Dimmy Kier, uma das primeiras Drag Queens brasileiras. Ela estava lá pra explicar pras donas de casa o que era aquilo, a diferença entre elas e as transformistas do Show de Calouros, etc. Algo aconteceu dentro de nós, e ficamos histéricas.

Passamos a procurar tudo que se relacionasse ao mundo das Drag Queens. Jornais, revistas, TV. E descobrimos um lugar chamado Massivo. E ficamos correndo atrás de amigos gays pra nos levarem as boates para vermos as Drag Queens. Assistíamos Na Cama com Madonna sonhando em estar no meio deles. Descobrimos a House Music, Drag Music, e mais um monte de coisa que grita. Re-descobrimos Madonna.

Até ir pra uma balada gay, eu tinha beijado uns 2 meninos. Já estava indo pra Faculdade de Letras, e a vida emocional não andava. Nesse momento da minha vida, eu já conhecia uma meia dúzia de pessoas do meio, e fui levada pra antiga Nation na Praça Roosevelt. Naquela noite, uns 3 caras bem alegrinhos me tascaram beijos na boca. Voltei pra casa feliz por não ter sido chamada de ‘Arigatô, Sayonará’ a noite toda, coisa que sempre acontece em baladas heterossexuais. Lá na Nation eu não era uma estranha. Eu era exótica, e essas pessoas adoram ‘as exóticas’. Eu poderia me vestir do jeito que quisesse, dançar como bem entendesse, beijar todo mundo sem medo, e ainda correr o risco de apanhar de skin-heads – violentíssimos no começo dos anos 90. Mas, acreditem, tinha gente que achava fino apanhar de skin heads!

A partir daí, freqüentei muitos inferninhos, muitas casas noturnas de bichas classe-média alta, bares, botecos, raves, etc. Fiquei amiga de todas as Drag Queens mais famosas, era promoter da Loca e do Massivo, fazia festa na Gent’s. Até que conheci meu primeiro namorado em uma dessas baladas, e fugimos pra Nova York. Minha família contrariou o namoro, por motivos bem óbvios.

E assim, hoje relembrei de todo o trajeto. Porque acordei me perguntando: Por que sou assim?

Sou assim porque desde 1993 eu vivo num mundo cor-de-rosa, muito divertido, entorpecido, esfumaçado, animado, ácido e que cheira Cândida com Pinho Sol. Um mundo paralelo a tudo que as pessoas conhecem de mim. Um mundo que, não adianta onde estiver, estará dentro de mim. Tendências? Karmas? Darmas? Ainda busco respostas. Ainda sofro um pouco a solidão de uma mulher heterossexual de 33 anos e solteira.

Eterno conflito.

Minha melhor amiga resolveu o conflito dela. Parou de sair pra lugares GLS aos 23 anos, se casou e tem uma família estruturada.

Será que é tarde demais pra mim?

Published Sunday, November 22, 2009
Re-edited - March 2011