sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ensaio de uma mulher só

Então eu acordei. Acordei procurando incessantemente algo dentro de mim que não sejam lembranças nem arrependimentos. Procurando respostas pra perguntas inexistentes.

Estou sóbria, no melhor sentido da palavra. Não sei o que fazer, não sei pra onde ir, não sei o que dizer, não sei o que comer. Não sei com quem falar.

Me sinto só, mesmo sabendo que não estou. As vezes, quero estar só e não consigo. Vivo como se estivesse numa sala de vidro, sendo observada o tempo todo. Tendo que sorrir à todos que passam ao meu redor. Tendo que me mascarar, e não tendo o direito a privacidade. Me sinto disponível sem a chance de dizer ‘estou ocupada’. Estou exposta como jamais estive.

Não é ruim. Não é bom. Não é triste. Não é alegre.

É apenas gelado.

Olho pra dentro de mim procurando por aquilo que não tem nome. Não encontro e me desespero. Gostaria muito de deixar de ser ‘eu’, pra me transformar em ‘nós’. Nós quem?

Os anos passam correndo, e a cada ano, penso em quando me sentirei parte da sociedade. Em quando as pessoas vão olhar pra mim sem me julgar por aquilo que não sou. Aquilo que pensam que sou. Sou muito mais do que imaginam. Mas não entenderiam se tentasse explicar. Explicar o quê?

Sou um grande vazio que tenta desesperadamente se preencher. Do quê?

Sinto nojo e náusea. Meu coração se aperta e minhas entranhas secam. Meu estômago grita e minha cabeça gira. Tudo é novo, tudo é estranho. Sou prisioneira voluntária de mim mesma. Minha alma não se liberta e o invólucro parece cada vez mais pesado.

Sonho sorrir de verdade novamente. Mas esse ‘eu’ não consegue. Esse ‘eu’ finge e se esconde. De quem?

Me escondo de mim mesma. Gritando em silêncio, chorando através de sorrisos e me entorpecendo através de livros e memórias.

A vida deveria ser bem mais que isso. Isso o quê?