quinta-feira, 31 de março de 2016

Sobre o céu

Trilha sonora do texto: clique aqui


Naquela manhã chuvosa, sentada na areia esperando o sol nascer, alguém me perguntou o porquê da minha fascinação pelo sol se pondo e nascendo, a ponto de chorar ao ver um céu laranja. “É pra ter a certeza que o mundo realmente dá voltas.” A voz se silenciou e me silenciou. Ficamos os dois assim, em silêncio até ter a certeza que a chuva não nos deixaria ver mais um espetáculo subindo do mar. Voltamos para casa. Para a rede, para o livro e para o café.

O verão chegou ao fim, o silêncio se encerrou. O outono trouxe suor. Ninguém consegue suar calado. O calor intenso foi substituído pelos ventos gelados da madrugada e eu precisei partir.
Para um viajante, partir e voltar se confundem. Ir não é deixar. Levar é trazer. Buscar é deixar ir. Voltar é sagrado. Partir é necessário.

Voltei. Muito mais que geograficamente. Voltei para uma parte de mim, esquecida, deixada e partida. Voltei para fazer apenas aquilo que eu gosto, desde a hora que acordo até a hora de me deitar. Voltei para me recusar a fazer qualquer coisa que não seja extrema e absolutamente da minha vontade. Voltei para não me entregar a nenhuma instituição, a nenhum grupo, a nenhum lado. Voltei para comprovar que ter escolhido ser viajante na vida valeu a pena. Viver para isso. Ganhar dinheiro para isso. Respirar isso.

Voltei pra deixar bem claro que a minha escolha é ser.