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Naquela manhã chuvosa, sentada na areia esperando o sol
nascer, alguém me perguntou o porquê da minha fascinação pelo sol se pondo e
nascendo, a ponto de chorar ao ver um céu laranja. “É pra ter a certeza que o
mundo realmente dá voltas.” A voz se silenciou e me silenciou. Ficamos os dois
assim, em silêncio até ter a certeza que a chuva não nos deixaria ver mais um
espetáculo subindo do mar. Voltamos para casa. Para a rede, para o livro e para
o café.
O verão chegou ao fim, o silêncio se encerrou. O outono
trouxe suor. Ninguém consegue suar calado. O calor intenso foi substituído
pelos ventos gelados da madrugada e eu precisei partir.
Para um viajante, partir e voltar se confundem. Ir não é
deixar. Levar é trazer. Buscar é deixar ir. Voltar é sagrado. Partir é
necessário.
Voltei. Muito mais que geograficamente. Voltei para uma
parte de mim, esquecida, deixada e partida. Voltei para fazer apenas aquilo que
eu gosto, desde a hora que acordo até a hora de me deitar. Voltei para me
recusar a fazer qualquer coisa que não seja extrema e absolutamente da minha
vontade. Voltei para não me entregar a nenhuma instituição, a nenhum grupo, a
nenhum lado. Voltei para comprovar que ter escolhido ser viajante na vida valeu
a pena. Viver para isso. Ganhar dinheiro para isso. Respirar isso.
Voltei pra deixar bem claro que a minha escolha é ser.
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