sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O que reflete a alma – ensaio sobre as gratuidades

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Parte 1.

Do amor: O amor te leva ao paraíso, dizem os religiosos. O amor te mata, dizem os poetas. O amor te liberta, dizem os sábios. O amor constrói, dizem os otimistas. Ah, o amor. Que nada mais é do que um punhado de respeito, uma constante admiração pelo próximo e uma confiança que ultrapassa os limites da razão. Os anos não são contados. A idade pouco importa. Falemos da gratuidade do tempo. O tempo que você precisa pra amadurecer e encontrar algum sentido real na vida. Alguns levam mais tempo. Outros menos. Depende do que busca, do que enxerga lá na frente, do que se quer nesse momento. Nesse momento do tempo. O amor que você deposita em tudo que faz, dentro do tempo de vida que tem. Seja o que for. Onde for. Com quem for. A gratuidade da alegria de se sentir o outro. A gratuidade e o valor de um abraço, quando o que você mais precisa é de um abraço. Um copo d´água para o sedento.

Esse tal amor divino. Esse que me dá chances e chances de melhorar. Dentro de cada tempo que me é dado. De que já me foi dado. De que será dado. Gratuitamente. Esse amor que eu acredito não ser tirano, não me julgar, não exigir de mim, em apenas um punhado de anos de uma só vida, a perfeição. Que me oferece oportunidades de aprender em outros planos do espírito, que não tenta me convencer de que a outra vida é um eterno ócio, onde a única função é deitar e ouvir anjos cantando ao meu redor. Não. Isso não é progresso. Se eu tenho apenas esse tempo de agora, dentro desse corpo, me desculpe, não chegarei à perfeição divina. E não acredito que em estado moribundo, se eu olhar pra cima e disser eu aceito Deus, tudo o que tiver feito em degradação do próximo será perdoado, e eu imediatamente me tornarei um anjo celestial. Não. Isso pra mim não faz sentido. O amor te reforma, te consola, te da chances e chances de evoluir. O amor, a energia cósmica, o universo inexplicável. Somos todos seres criados pelo mesmo criador. Que fez um universo inteiro dentro de nós, um micro universo. E nós, células desse mundo, moléculas que fazem o corpo terrestre se movimentar, precisamos amar, para que esse planeta consiga sobreviver. Precisamos ser as células boas que impedirão que as células em neoplasia matem o amor de Deus. O amor que nos foi dado dentro desse nosso tempo de agora.

Amamos quando respeitamos o nosso tempo, consequentemente o tempo do outro. Amamos quando admiramos o que o outro faz no tempo dele, amamos quando confiamos que o tempo dele te respeita e te admira.

Amamos quando doamos o nosso tempo. Não é a igreja que te salva. É a caridade que te salva. O que é a caridade senão a maior prova de amor? Você é caridoso quando entende os limites humanos e não exige mais do que os seus limites podem te oferecer.

Amamos quando olhamos para cada criatura desse mundo, em todos os seus reinos, e entendemos que tudo existe em nós também. Que o ferro, o fósforo e o potássio na natureza também estão dentro do nosso organismo. Somos seres criados da mesma forma, com os mesmos elementos. O amor de Deus ao homem é a capacidade de raciocínio. Raciocínio esse que foi nos presenteado para que soubéssemos lidar com todos os nossos sentimentos através da razão, da lógica e da clareza. Pra que assim, depois de racionalizada, possamos entender em toda sua lógica e razão, o que é o amor.

O amor reflete como um espelho. Nos meus espelhos, eu mostro a minha alma. Que é a única coisa que posso oferecer ao mundo. Meu corpo não cabe dentro dos padrões dos corpos que são amados. Mas a minha alma é.
O amor traz paz. Sempre.
Se não te traz, não é amor.
É apenas o seu orgulho esperando algo que ainda não passou pela sua razão.
Mas vai passar. Não se preocupe. O tempo é sábio e é gratuito. Preencha-o de amor.


Seja qual for a sua forma de amar.