quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A síndrome do banheiro público




Quem já teve dor de barriga dentro de um ônibus e desceu em qualquer ponto pra usar qualquer banheiro em qualquer boteco em quaisquer condições de limpeza, põe o dedo aqui.

É assim que eu defino a maioria das minhas participações sexuais na sociedade. O tal banheiro público.

Não de forma degradante ou de extrema baixa autoestima, mas de forma realista. Tão realista a ponto de poder falar abertamente sobre isso e saber que a solução já foi encontrada e executada.

Sempre me senti um ícone do mundo do ‘sexo sem compromisso mas com responsabilidade’. Hoje percebo que nada mais fui do que um refúgio. Um alívio. Taí a síndrome.

Certa vez, numa típica conversa pós-coito, meu parceiro me abraçava ternamente e dizia com o maior romantismo: ‘Me sinto tão bem quando venho aqui, não aguentava mais o stress do escritório. Me sinto aliviado.’ A minha resposta veio impulsivamente: ‘Me senti um sanitário de metrô agora.’ E ele, depois de uma crise de riso disse: ‘Faz sentido. Mas por que não um sanitário de shopping?’ ‘Oras, antes de decidir vir correndo pra cá, você estava mais no estado de quem tá na rua apressado tentando chegar ao trabalho e de repente tem uma diarréia, do que alguém que está fazendo compras num sábado à tarde.’ Depois da segunda crise de riso, minha reação foi óbvia. ‘Agora se limpe e vá embora correndo, porque você já conseguiu o que queria e precisa continuar sua vida.’ Foi o fim de nossa breve história que durou 3 encontros e um telefonema, momento em que enterrei a vontade de tê-lo como um namorado definitivamente.

A novela foi a seguinte: mesmo depois de ter mandado ele embora, uma semana depois me senti entediada e decidi ligar pra ele. Queria que viesse em casa pra me entreter. Ele disse em poucas palavras que não poderia mais vir à minha casa porque tinha encontrado o amor de sua vida e tinha decidido começar a namorar. Terminou com um mero: ‘Eu sou fiel, sabe?’

Foi o início da elaboração da minha teoria sobre essa síndrome. Eu era o banheiro público, ela era o banheiro de casa e ele era do tipo que o intestino travava quando estava numa viagem e só conseguia destravar quando voltasse.

Passei mais alguns anos me debatendo dentro desse sentimento, até que decidi aceitar a posição de ‘banheiro de balada’. Normalmente, aonde as melhores histórias acontecem, mas que no dia seguinte não passam de vagas lembranças e fofocas cheias de veneno.

Depois, encontrei alguém que seria capaz de morar dentro de um banheiro se fosse preciso, mas que só usaria o vaso sanitário do vizinho.

Passada essa fase, me tornei um banheiro entupido.

Daí, meu banheiro ficou interditado. Teve uma placa pendurada na porta dizendo: ‘Desculpe o transtorno. Estou em reforma pra melhor atendê-lo’ por muito, muito tempo.

Acabei de tirar a placa, e realmente espero em breve ser útil de novo. Mas o reabro reformado, limpo, redecorado e pronto pra alguém.
Não vou dizer que já sonho em ter alguém morando lá dentro, nem sei se a reforma está realmente acabada a ponto de servir de moradia. Mas quero alguém que prefira usá-lo, não por falta de opção, pressa ou desespero.

Simplesmente escolha.