terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sobre 2014

Trilha sonora de 2014: clique aqui
 
 
Estou cansada. Mas é cansaço bom. Como quando a gente tem que passar o dia todo carregando pedras nas costas, mas ao final do dia tem uma rede, pés descalços, café fresco, por do sol e varanda pra descansar. O final do ano chegou e eu descanso. Antes de mais uma saga começar. Mais uma depois de tantas. Fugi pro mato quando o concreto já não me confortava, não o tanto que precisava naqueles momentos. Sou filha de Oxossi. Montanhas e trilhas me trazem a paz. Abraçar árvores é importante quando abraçar humanos te machuca. E foi na natureza, no meio de paraísos escondidos nesse país lindo que vivo, que encontrei o que buscava. Em cada momento, uma busca diferente. Em cada estrada, um sorriso renovado. Em cada pouso, um renascimento.
Fugi das mentiras, descobri as verdades. Conheci o pior lado de nós humanos, e isso foi, talvez, a experiência que mudou a minha vida. Mudou porque pela primeira vez eu aprendi. E todo aprendizado é um merecimento. Mudou porque eu aceitei que mereço.
Tive exemplos de tudo aquilo que eu não devo fazer com o próximo. Tive exemplos de tudo o que devo ser pra mim mesma. Li pouco, estudei muito, escrevi muito, lecionei muito, fotografei como nunca. Percorri o país de norte a sul, andei de trem, de balsa, de barco, de avião. Corri, chorei, fiz amigos, caí na rua e pedi demissão. Amei e odiei. Agora trabalho o perdão.
Entendi que o dinheiro compra pessoas, sentimentos e palavras. Novamente, entrei num conflito com isso. Dessa vez mudou porque eu abri mão dele e aceitei que só deixaria de sentir nojo disso quando finalmente entendesse o sentido da palavra doação. Deixei de dar, passei a doar. Quando damos, automaticamente, esperamos algo de volta. Quando doamos, apenas doamos. Substituir o ódio trabalhando puramente pelo amor. Me salvei.
Deixei pra trás um mundo encantado de excessos de egos e corri pra um mundo cinza e carente. Estou onde não existe nenhuma expectativa a não ser ajudar quem realmente precisa da minha alegria e não espera mais nada de mim a não ser o que tenho de mais precioso, o meu tempo.
E é esse mesmo tempo, abençoado tempo, que me traz a paz e a gratidão. Traz a certeza de causa e efeito, ação e reação. O tempo de voltar a amar e acreditar. O tempo de voltar a viver.

Que venha pra mim tudo aquilo que for meu por direito divino.
Feliz 2015.


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O Chauffeur de Luxo


 
Seu telefone tocava sem parar dentro daquela minúscula bolsa que ela carregava no braço direito. Nervosa e andando de um lado para o outro, focada em achar suas malas, com medo de ter perdido boa parte de sua vida. Ele havia chegado há mais ou menos uma hora. Tomava um café encostado no balcão de informações da empresa aérea, ouvindo sem muita atenção alguém que lhe contava uma história. Ouviu passos rápidos, curtos e barulhentos vindo atrás dele. Ele olhou pra direção de onde vinha o som e a viu. Pela primeira vez.
Foi tentar atender ao telefone e pedir informação ao mesmo tempo. Falou com o jovem atrás do balcão, pediu pra alguém no telefone esperar um pouco e o viu. Pela primeira vez.
“Minha bagagem não chegou com meu voo. Estou desesperada. Me ajuda, por favor!”
Feita toda verificação, a melhor notícia foi que suas malas estavam indo pra Manaus. Ela poderia preencher alguns formulários e aguardar doze horas para que o avião retornasse àquele aeroporto. Ele a viu se afastando com os formulários, sentando-se no chão, tirando seus sapatos de salto alto vermelhos e falando ao telefone. Ela o olhava e sorria.
“Se me permite, posso te ajudar.”


Em duas horas, ela embarcava num avião particular, sentada atrás da cabine do piloto, com a minúscula bolsa e sapatos nas mãos. Uma comissária de bordo a olhava de forma suspeita, mas tentava ser gentil, uma vez que a passageira de última hora havia sido convidada pelo respeitável piloto daquela empresa.
“Good morning ladies and gentlemen, this is Mr. Roberto D. …”
Em 4 horas e 22 minutos pousaram. Copiloto, comissária e passageiros desembarcaram, porém ele pediu que ela ficasse dentro do avião. Ela achou isso estranho, mas uma vez que era uma convidada, considerou fazer o que aquele charmoso Sr. D. a solicitara.
“Temos uma hora.”
Após 55 minutos, a tripulação adentrava novamente a aeronave. Sr. D. ajeitava o último botão do uniforme branco e azul e ela mexia em seu celular de cabeça baixa. Ele a olhou de canto de olho e respirou fundo. Aguardaram mais alguns minutos quando um funcionário do aeroporto avisou que sua bagagem já se encontrava naquele avião.

Já era final de tarde quando chegaram ao aeroporto de origem, desembarcaram juntos e em silêncio. Copiloto e comissária conversavam animadamente, se despediram deles e tomaram cada um o seu caminho. Eles continuavam andando lado a lado, mudos, como se já soubessem exatamente aonde iriam.

***
Ela acordou com o barulho do vento batendo na janela. Percebeu que estava só naquele quarto enorme e branco. Abriu a janela, avistou o Pão de Açúcar e sentiu o vento frio estapeando seu rosto. Aquela vista, aquela chuva fina, aquela manhã de domingo. Sentiu que alguém a olhava. Quando saiu do seu semi-transe, o viu parado na porta. Era o homem mais lindo que havia visto em sua vida.


“Quantos dias você ainda pode ficar comigo?”

Já estavam juntos desde o episódio das malas perdidas, há exatos três dias, cruzando os céus, indo de norte a sul, envolvidos num jogo perigoso e silencioso. Ficavam a sós dentro do avião em todas as paradas. E em todas elas, ele a desejou como se fosse a última parada, a última vez.
E foi então que aconteceu. Pegaram o último voo, dessa vez sentados lado a lado. Dessa vez ela segurava sua mão e o olhava ternamente. Dessa vez não haviam feito planos pra quando o avião pousasse. Dessa vez ele sentia medo.
Desembarcaram, retiraram as malas e caminharam 200 metros.
Ela deixou suas malas com ele e entrou numa lanchonete. Saiu pelo outro lado, sem olhar pra trás.

Ele a aguardou por alguns minutos, quando percebeu que ela não voltaria. Olhou para as malas e viu um bilhete preso nelas: “Obrigada por me ajudar a encontrar. A mim mesma e a minha bagagem.”.
Ela andava pelo saguão do aeroporto, esboçando um leve sorriso. Carregava uma minúscula bolsa vermelha no braço direito e calmamente mexia no celular.

domingo, 21 de setembro de 2014

Sobre o Fricote

"Pessoas com vidas interessantes não têm fricote. Elas trocam de cidade. Sentem-se em casa em qualquer lugar. Investem em projetos sem garantia. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor e compram passagens só de ida..." Martha Medeiros
 
Quantas vezes você já se deparou com esse texto ao longo de sua vida social-virtual? Inúmeras. Pois é, eu também. Mas hoje, ao me deparar com ele de novo, tudo fez sentido.
Sobre a minha imperfeição, descrita, definida e assumida, não é preciso dizer mais nada. Mas sobre a descrição, definição e aceitação de "pessoa com vida interessante", ainda há algo a se dizer. Ou escrever. Ou pelo menos se refletir.
De acordo com a autora Martha Medeiros, cujas obras me são ainda quase desconhecidas - salvo um livro de crônicas que li há um ano e alguns textos curtos com frases de efeito que circulam pela web - eu sou uma pessoa de vida quase interessante. Digo quase, pois, me referindo ao texto acima, a autora afirma que pessoas com vidas interessantes NÃO tem fricote. Sim, elas têm. E muitos. Não chamaria de “fricote” as graves crises emocionais que normalmente as pessoas de vida interessante têm. Mas, no geral, os fricotes acontecem com certa regularidade. Pessoas que não têm fricote são geralmente pessoas com vidas sem muitas mudanças, onde a segurança da rotina e o comodismo as fazem fugir de alterações significativas que lhes causam o tal “fricote”.
Explicado o único ponto que não concordo com o trecho em questão, passemos aos outros pontos aonde chega a ser irônico a semelhança com o que vivo e acredito. Trocar de cidade, sentir-se em casa em qualquer lugar. Pra quem, aos 22 anos de idade foi embora pra Nova York com 400 dólares no bolso e sem lugar pra morar, trocar de cidade seria uma brincadeira. Investir em projetos sem garantia tem sido algo que preciso tratar em terapia. Incontáveis as vezes que investi tudo o que tinha em algo que me fizeram acreditar que era bom. E claro, não eram.  O que dizer sobre as pessoas por quem me interesso? O mesmo sobre projetos sem garantia. Invisto tudo o que tenho em pessoas que me fizeram acreditar que eram boas. E claro, não eram. Há alguns dias entreguei a carta de demissão mais triste da minha vida, escrita à mão em papel sulfite branco. Com toda a dor e a certeza do mundo, me retirei de onde não cabia mais. Sem ter nada a fazer, aceitei um convite pra fazer algo que nunca fiz.


Já subi em muitos palcos e tosei o cabelo pelo menos 3 vezes esse ano.
Loucuras de amor? Só se for por alguém que exista de verdade e não um punhado de mentiras e falsidade. É hora de celebrar meu corpo e minha mente, dando à eles tudo o que precisam, para que eu, pessoa de vida interessante, possa um dia voltar a acreditar que fazer loucuras de amor não é o mesmo que investir em projetos sem garantia. Alimentação adequada para que continue perdendo apenas peso e ganhando apenas autoestima.


Agora é hora de comprar passagens.
Só de ida.
Porque eu tive um ‘fricote’.
Porque me machucaram.
Porque eu preciso começar do zero.
Porque sim.
 
 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Sobre a (im)perfeição


Que ninguém é perfeito todos nós (pessoas conscientes da necessidade de evolução) sabemos. Cientes que todos estamos sujeitos a provas diárias, basta-nos usar de bom senso, adquirirmos certos conhecimentos necessários, nos vestirmos adequadamente e sairmos de casa pra enfrentarmos mais algumas horas de vida em contato com as pessoas. Pessoas imperfeitas, aflitas, estressadas e tentando. Tentando arduamente se adequar em padrões estabelecidos, normalmente, por outras pessoas que não sabem o que são padrões. Pessoas que se submetem a rotinas massacrantes, que transpiram, que tentam e que se alienam. Tudo em troca de algo, claro. Normalmente em troca de dinheiro. Ou poder. Ou respeito. Dificilmente encontramos hoje um número relevante de pessoas que passam por tudo isso em troca de conhecimento. O indivíduo medíocre (no sentido de mediano e comum) já carrega nos ombros a ideia de que já conhece, já sabe e em certo momento de sua vida, desiste de aprender e passa apenas a ensinar. Ensinar aquilo que o mesmo ‘acha’ que conhece ou domina. Encontramos aí a pessoa ‘perfeita’.

A pessoa perfeita não está suscetível a erros, quanto mais enganos. Deslizes, talvez. Estes, a muito custo, admitidos diante de tal sabedoria. Na maioria das vezes, quando a pessoa perfeita percebe que cometeu um ‘deslize de conduta’, a mesma primeiramente disfarça um desprezo, para logo em seguida procurar explicações científicas ou teóricas e verborrágicas de alguém que um dia escreveu alguma coisa sobre aquilo. Com a mascarada consciência tranquila, a pessoa perfeita começa a mostrar uma inexplicável alegria diante das pequenas coisas da vida, pois a pessoa perfeita ensina. Ensina como se portar, falar, rir, se alimentar, se relacionar, se expor. Ensina perfeitamente até como você deve pensar. Claro, nesse momento de sua vida, aprender algo com alguém seria apenas uma perda de tempo. As qualidades do ser perfeito são inesgotáveis. De espiritualidade elevada e pensamento leve, a pessoa perfeita tem certeza de tudo o que faz, fala ou escreve. Ela sempre sabe o que está fazendo, por ser segura e saber controlar sua impulsividade.

Os imperfeitos, que uma vez admitiram que são eternos aprendizes, cometem erros. Muitos. Milhares. Aprendem com a maioria deles. Se não aprendem, sabem que terão que enfrentar tudo de novo. Para aceitarem que podem aprender mais uma vez. Os imperfeitos se espelham nos perfeitos. Porque sabem que têm muito a aprender, os ditos e assumidos imperfeitos aproveitam cada chance de provável evolução. O imperfeito, obviamente, incomoda e atrapalha. E ele sabe disso. Ser imperfeito implica em ser diferente. E admitir isso é característica principal (e negativa) desse tipo de pessoa. Uma vez sabendo de sua posição na sociedade, o imperfeito nunca se considera bom o suficiente. Pelo menos bom o suficiente para não precisar mais aprender. Dependendo de sua variação de humor, de seu estado emocional e da segurança de sua autoestima, a aprendizagem pode ser um processo leve. Ou não. Há aqueles imperfeitos que de tão aflitos, se sentem vítimas de um meio. Mais um ponto negativo e mais um tópico na lista de melhorias necessárias. De novo, uma vez assumido, resta ao imperfeito a procura de ajuda para sua evolução e progresso. Primeiramente como ser humano e em seguida, como um ser humano lidando com seu meio.

Seja perfeito ou imperfeito, seja humano ou desumano, justo ou injusto. Seja lá o que for. Tanto um quanto o outro devem saber que qualquer indivíduo ensina melhor aquilo que mais precisa aprender. Logo, assuma o que se é. Admita o que se é. Perdoe-se do que se é. Seja grato pelo que se é.

E aja de acordo.

sábado, 13 de setembro de 2014

Sobre a Palavra


Palavras ditas no calor das emoções são normalmente palavras impulsivas, cheias de consequentes arrependimentos e meio-sorrisos. Palavras escritas são normalmente frias, pensadas e calculadas. Repensadas e recalculadas. Exatamente como estas que escrevo agora.
Pensadas e repensadas. Escritas e reescritas. Editadas e reeditadas. Ditas e soltas ao mundo.
Se elas estão indo ou vindo, já não importa. Elas já estão lá. E não há mais nada a fazer quanto a isso. Todas as cartas estão na mesa. O que fazer com elas? Ainda tentar ganhar alguma coisa em um jogo cheio de desperdícios e falta de comunicação?  Aceitar que perdeu e seguir de cabeça erguida? Qualquer decisão seria mais uma perda de tempo. Tempo esse que já não tenho mais. Tempo esse que já passou.
Fazer as malas e limpar o armário. Fechar mais um ciclo e recomeçar. Sem medo, vergonha ou orgulho.
Buscar ou fugir, tanto faz.

As portas se abrem novamente e o cheiro de estrada já começa a entrar nesse novo cenário. Anônimos e leitura. Fotografias e arte.
Vida.
Deixo minha provável última palavra aqui:

 “Gratidão.”

domingo, 7 de setembro de 2014

Sobre a fuga


Ela desceu as escadas apressadamente. Lembrou-se apenas de amarrar os tênis e colocar os seus pertences dentro da mochila. Correu pra fora daquele prédio sem olhar pra trás.
Sabia que o que havia feito era errado. Sabia que não tinha que estar lá. Mas tinha ido e já não havia mais nada a ser feito. Era hora de voltar pra casa. Ou pelo menos, era hora de ir pra algum outro lugar.
Entrou na estação e escolheu alguma linha pra seguir viagem. Eram quatro as opções. Escolheu a mais confortável. O trem já andara algumas estações quando se deu conta que precisava vomitar. Saiu correndo na estação seguinte e procurou um banheiro. Foi lá que desmaiou.
Acordou num quarto com luz baixa. Uma senhora gentilmente aproximava as palmas de suas mãos em sua testa, fazendo com que um leve aroma de flores chegasse a suas narinas. Não queria saber onde estava, pois se sentia segura e era o que bastava. Adormeceu mais uma vez.
Felizmente encontrou um táxi numa esquina escura. O motorista parecia pacifico e rapidamente a levou para o centro da cidade. Parou no hotel que ela pedira e silenciosamente aceitou o pagamento da corrida. Ela pediu um quarto e subiu sozinha.
A senhora a dera uma flor já meio murcha e um papel dobrado. Nele havia escrito com suas letras de semianalfabeta: “perdoa seus monstros”. Guardou o papel e a flor no bolso de seu casaco e banhou-se. Precisava de um banho e mais algumas horas de sono pra se recuperar da bebedeira, da dor no estômago e da náusea que o ódio provoca.

Saiu daquele hotel depois de algumas horas. Já havia amanhecido quando se deu conta de que tinha esquecido seus óculos escuros em algum lugar. Passou por tantos lugares desde que chegou nessa cidade que não fazia ideia de onde estaria.  Nem seus óculos, nem ela mesma. A decisão de estar o mais longe possível de seus monstros a fez viajar horas e horas, numa ‘falsa’ esperança de que quanto mais longe estivesse, menos dor sentiria. Sempre havia buscado algo em suas viagens. Dessa vez, fugia. Fugia do pior sentimento que havia sentido. Fugia de um sentimento que ela nem sabia que era capaz de sentir.  E ela precisava sentir tudo aquilo sozinha. Precisava sentir toda a dor que pudesse sentir pra que talvez pudesse perdoar a si mesma um dia por ter se colocado naquela situação. Como não havia percebido o óbvio?
De tudo que havia estudado, lido, pesquisado, conhecido. De tudo que havia feito e vivido. De tudo que havia visto. Dessa vez sim, ela podia afirmar com todas as letras que havia conhecido a pior espécie de ser humano que havia na face da terra. E como se perdoar por não ter percebido isso a tempo? A tempo de não ter que fugir? Como se deixou levar por alguém de sentimentos tão cruéis? Alguém que faz do sofrimento alheio algo a ser levado como um troféu? Como se livrar disso tudo e ao mesmo tempo carregar dentro de si a maior das lembranças? Por que o universo a poria dentro de um meio tão sujo, com seres capazes de tamanha maldade?

A vida a ensinava. Mais uma vez, a ensinava. Da forma mais dolorosa, mais inapropriada, mais cruel. Ela se olhou no espelho pela última vez antes de ir. Ela se odiou por ter acreditado. Ela se odiou por ter feito a pior das escolhas. Ela se odiou por ter trocado quem deveria estar ao seu lado, por alguém que nunca merecia sequer saber seu nome. Ela se odiou por não ter enxergado a tempo.

Havia chegado em seu limite. Já havia descoberto o que precisava descobrir. Agradeceu o universo, apagou a luz e se foi.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O pouco, o muito

É pouco ser correta. Ser honesta. Ser humilde. É bem pouco ser sincera. Num mundo onde o ter é melhor que o ser, é considerado muito quem mente, quem ilude, quem massacra, quem humilha, quem fere.
É pouco querer. É pouco fazer. É pouco pensar. Mas dentro do meu pouco, um mundo de muitos. Muitos sonhos, muitos objetivos, muitos amigos. Muito amor, muitas risadas, muitos livros e muito conhecimento.
É pouco pra muitos. E esses muitos são muito pouco pra mim.
Sou muito pra muitos. E pouco pra alguns. É assim. Penso muito. Vivo muito. Me importo pouco. Um pouco menos a cada dia.

domingo, 31 de agosto de 2014

Sobre ser feliz



Feliz é quem agradece, reconhece e aceita. Feliz é aquele que sabe que o amanhã será bom, porque o hoje está bom. Feliz é aquele que tem a liberdade de escolher ser feliz, que tem a liberdade de estar do outro lado do mundo amanhã. Que tem mais liberdade que dinheiro. Que tem mais amor do que posses. Que tem mais sonhos do que mentiras.
Que não tem medo de sentir.
Feliz é quem adormece com a consciência tranquila. Feliz é quem trabalha pra poder ver espetáculos da natureza e sabe que o dinheiro não traz felicidade.

Feliz é quem não tem medo de ser feliz.





quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sobre o Enquanto

Por enquanto eu adormeço
Penso, reflito e acordo
Falo o necessário
Sorrio o possível
Respiro quando posso
Por enquanto eu caminho
Pra frente,
Com a cabeça erguida
Com o peito cheio
Com apenas o que posso carregar
Com os bolsos cheios de lembranças
Por enquanto eu me arrependo
Do que não foi
Do que poderia ter sido
Do que nunca será
Por enquanto
Amo
Quero
Mas não posso
Por enquanto eu não consigo
Por enquanto eu espero
Por enquanto eu decido
Por enquanto eu me calo.

sábado, 5 de abril de 2014

Sobre as turbulências

Admito, aceito, decido. Todos os minutos, um atrás do outro, tudo é uma decisão. O que farei dos meus próximos 10, 30 dias? E assim venho vivendo. Assim venho decidindo essa atribulada forma de ver isso que, às vezes, chego a chamar de vida.
Disseram-me esses dias que eu tenho uma forma só minha de enxergar as coisas. Queria enxergar como a grande maioria. Sofreria menos, decidiria menos, acho que até viveria mais. Me preocuparia menos, pelo menos.
Eu vejo arte em tudo. Nos enquadramentos que meus óculos escuros me proporcionam, nas músicas que a paz dos meus fones de ouvido me trazem. Nos passos que meus tênis vermelhos dão. Não é por mal. Minhas escolhas me fizeram assim.
Preciso de enquadramentos, de paz e de chão. Preciso de uma longa estrada, pra voltar a acreditar no futuro. Queria, dessa vez, alguém pra ouvir e sentir o silêncio e o vazio do meu lado.

Decido, admito e aceito.
Esse mundo não é pra mim.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Sobre o silêncio

Porque é só assim, sem ninguém ao meu redor, que eu encontro compreensão. Muitas vezes, é o que eu não digo que importa. Muitas vezes, é no que meus olhos não vêem que está a tentativa do conforto.
Porque eu preciso que alguma coisa faça sentido de novo.
Porque é muito estranho repreender quem tem excesso de amor. Porque na minha vida, eu só precisei dar amor à quem não conhecia isso.
Porque por muitas vezes, aquilo que almejamos é aquilo que nos cega. Porque o desprendimento não faz parte desse mundo.
Porque é preciso ser superficial para sobreviver.
Porque o certo não pode ser certo num mundo materialista.
Porque o errado é tentar entender. Porque o mediano é o melhor. A profundidade de uma alma, a sinceridade de um sorriso, a humildade dos humildes. Nada importa. Não vale a pena. Não neste mundo. Aceitemos e façamos o que puder ser feito. Em silêncio.

Por quê?

sábado, 22 de março de 2014

Sobre limpar gavetas

Todas elas, dentro de mim, diziam que isso nunca aconteceria. Que isso jamais seria possivel dentro dessa mente pluralizada, múltipla, perturbada, solitária e livre. Mas aconteceu.
Aconteceu que ele apareceu. E ele veio leve, levando minhas horas de sono e me fazendo sorrir. E ele se foi, antes mesmo do verão se acabar. E assim que ele se foi, assim que eu entendi que já estava em outro mundo, eu entendi que pela primeira vez eu havia me entregado. Que tudo aquilo que eu nunca havia revelado a mim mesma, ele já sabia. Talvez por sermos assim, meio parecidos. Como tudo acontece em atraso na minha vida, eu só percebi que estava apaixonada depois que a paixão havia acabado. Quando o platônico já era visível, o silêncio necessário e a solidão um merecimento.
Ser livre dói.
Posso dizer, como sempre disse, que ele era a pessoa mais próxima e mais distante na minha vida. Que ele foi o primeiro homem de verdade na minha vida - e só ele sabe que isso é verdade.

Não quero nada.
Só quero agradecer.
Nossa história é linda.
Obrigada, CW.

Song For The Road

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sobre a Aceitação




Porque é preciso encontrar um motivo qualquer, todos os dias, pra valer a pena viver. Porque esse mundo não tá tão legal assim. Não é um lugar bom pra se viver. Não é fácil viver preso sob a lei da compensação. Não é fácil viver estagnado no pensamento da utopia da felicidade plena. Não é fácil encarar um mundo maniqueísta, onde claro, a sociedade estabelece que alguém livre é louco e o louco é um pobre coitado.
De que lado você realmente está? Já parou pra pensar nisso? Ou a ideia da liberdade é lúdica demais pra fazer parte dos seus pensamentos? Onde você encontra razão pra viver? Já pensou pra que você trabalha? Pra pagar almoço, condução e impostos? O que te faz acordar todos os dias? Onde está a beleza do seu mundo? Pra onde você caminha?

Eu respondi essas perguntas hoje. E estou muito consciente do que está a minha frente. Contudo, o que está ao meu redor é o que me sustenta e, embora eu ainda não acredite em mim, eu acredito que a beleza do meu mundo está dentro de mim e segue o meu olhar ao mundo. A felicidade plena não existe. O mais próximo disso é a consciência e a aceitação do que se é. Aceite e seja. Não importa o quê. Aceite e seja.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Sobre a busca


Três Cidades – parte I

Um dia eu acordei, entrei no Google e vi uma foto de uma cidade histórica qualquer, em algum lugar qualquer. Foi por causa dessa foto que eu quis conhecer alguma cidade histórica qualquer. E desde essa primeira viagem, decidi conhecer todas as cidades históricas possíveis.

Relato aqui algumas coisas sobre as três primeiras cidades que visitei.

Comecei pelo mais barato e óbvio. Pelourinho, Salvador, Bahia. De verdade, a única coisa boa de Salvador. A cidade é um caos, tem esgoto a céu aberto em qualquer canto e qualquer coisa que se coma lá custa R$ 60,00. Me hospedei na orla, num hotelzinho 3 estrelas de frente pro mar. Dava pra ir andando até o Farol da Barra, uma caminhada de 2 km e um monte de vendedor ambulante pulando no seu pescoço. Ai de você se não comprar alguma coisa. Compre. Vai por mim. R$ 10,00 num colar é o preço do seu sossego.  O acarajé da Dona Tânia de frente com o Farol é o melhor (sim, experimentei TODOS), custam 3 reais e valem um almoço. O Pelourinho vale por tudo. Pelos museus, lojinhas, restaurantes e cafés. A cada trinta minutos passa o Olodum tocando, portanto você passa o dia inteiro dançando o ilê-ayê. Divertidíssimo. Pseudo-fotógrafos, vale a pena entrar nas vielas escondidinhas atrás da praça principal, são mais vazias e cheias de casas interessantes. Óbvio, não entre depois que escurecer. A Praia de Itapuã é uma farsa. O Estádio Fonte Nova estava em construção na época, não consegui entrar. O aeroporto não tem ar-condicionado.

 

Depois disso, peguei um ônibus e fui até Paraty, no Rio de Janeiro. Saindo do Tietê, custa uns 50 reais e leva 8 horas pra chegar lá. Tirando a chuva que ia e vinha e o monte de gente escorregando nas ruas do centro histórico, tudo correu bem. Comida boa, muito boa. Bar do Poeta e Café Paraty são incríveis. O centro é tão pequeno e acolhedor que dá pra conhecer tudo em 2 horas. Depois disso você fica dando voltas e voltas nos mesmos lugares, o que vale a pena fazer solitariamente com um fone de ouvido e uma trilha sonora de Duke Ellington. É um lugar onde me senti muito livre. Entenda como você quiser. Me hospedei numa pousada na Praia do Jabaquara, há 15 minutos de carro do centro histórico. Valor excelente (pagaria o mesmo pra dividir um quarto com 12 criaturas num hostel se tivesse ficado no agito), 90 metros da areia da praia e do lado do quiosque Caminito – a melhor carne argentina fora da Argentina.

 

Porto Seguro e sua ‘incrível’ cidade histórica. Fiz um tour naquele ônibus de dois andares, com um grupo de mulheres de meia idade, onde o guia local colocou um CD da Rihana no último volume e eu fiquei lá em cima, exposta ao Sol e ao vento, vendo minhas colegas de excursão acenando para as pessoas na rua, enquanto ouvia “this girl is on fireeeeeeeee...” – Paguei R$ 50,00 e perdi a minha dignidade. Decepcionadíssima com o que vi, mas válido pela história do lugar. Pelo que você imagina que aconteceu ali. A cidade histórica consiste em: 3 igrejas, uma pedra de Pedro Alvares Cabral e um monte de casinha-colorida-fake enfileiradinha. Vale pela vista. O Memorial do Descobrimento é interessantíssimo e a comida é boa em qualquer lugar. Me hospedei numa pousada em Santa Cruz Cabrália, beira-mar, custo-benefício sensacional. A praia de Coroa Vermelha estava a 50 metros do hotel, dava pra ir andando até o local da primeira missa e a feirinha de artesanatos é coisa fina. Você encontra vestidos lindos por preços ótimos e todas as barracas aceitam cartão de débito e crédito. Ideal pra uma semana de descanso.

 

Continuo procurando o local que eu vi na foto, aquela que me motivou a começar a explorar essas cidades. Não salvei essa imagem em lugar nenhum, não achei mais a foto na rede. No final das contas, viajo pra encontrar esse lugar que eu vi. E como tudo na minha vida, morro de medo de encontrar e não ter mais o que procurar depois. Paradoxo no melhor estilo lacaniano. E é individual.

domingo, 2 de março de 2014

Sobre o fim

De tédio morreu o medroso,
De solidão morreu o perturbado,
De onanismo morreu o sábio,
De carnaval morreu o sóbrio,
De música morreu o poeta,
De poesia morreu o sonhador,
De preguiça morreu o bêbado,
De arte morreu o amor.
Imaturos demais,
morreram velhos.
Mentirosos demais,
morreram verdadeiros.
E orgulhosos demais,
morreram livres.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Sobre (o) Poder

 

Posso não ter amor, mas tenho profissão

Posso não ter os pés bonitos, mas mantenho-os no chão

Posso querer demais, posso não querer mais

Posso pensar em você, posso nem saber porquê

Posso até sentir o cheiro dos seus cabelos, o cheiro da sua boca.

O cheiro do seu chêro.

Posso sonhar. 

Posso colher flores e dá-las pra mim.

Posso estar em você, sem sair de mim.

 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sobre(s)sair



Ela é viajante. E descobriu isso quando jogou seu mapa fora e seguiu seus instintos. Ela confirmou a sua nova situação. Deixou a confortável vida de turista e se tornou uma viajante.
Em sua antiga vida ela tinha que dizer. Tinha que confessar, tinha que marcar. Ela precisava do irreal da vida moderna pra preencher seus sentimentos em sépia. Ela era turista e uma turista precisa de um grupo, de um monitor e de tickets antecipados.  Ela precisava saber.
Em sua atual situação, ela viaja. Não fala, não confessa, não marca. Não tem mapa. Fotografa em silêncio. Seja com sua máquina. Seja com sua mente. Ou coração. Ela sente prazer cada vez que se perde. Seja em becos, seja em braços, seja em abraços. Ela suja seus cotovelos em balcões de bares engordurados. Ela não se envergonha.

A turista fazia de seus poucos dias fora da realidade, a melhor realidade que poderia fazer.
A viajante não sabe mais a diferença do sonho e da realidade. Tudo é igual. A estrada se tornou apenas a extensão de sua rotina. Não mais uma tentativa de uma nova rotina. A estrada não é mais uma nova casa. A estrada é o quintal da sua casa.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O Escolhido Foi Você


Esse livro caiu em minhas mãos porque alguém o leu (nesse caso, meu melhor amigo) e me emprestou dizendo: ‘a história é bobinha, mas os personagens são incríveis’.

Começar a ler um livro sabendo que ele é a consequência de uma fase de bloqueio e buscas de uma autora/cineasta/roteirista/diretora americana, de 35 anos, moradora de Los Angeles e procrastinadora é um alívio pra quem tem uma vida medíocre como eu. Uma autora/cineasta/roteirista/diretora também tem problemas de buscas, também senta na frente do computador achando que a ideia genial virá a qualquer minuto, e depois de mais ou menos uma hora a única coisa que conseguiu fazer foi jogar o próprio nome no Google umas 80 vezes. O roteiro do seu filme não se desenrola, ela não tem inspiração. Cansada, mas escrava, do mundo virtual, Miranda vai atrás de vida real. De gente real. De histórias que ninguém saberia se ela não tivesse respondido aos anúncios de um jornal chamado PennySaver.

Miranda ofereceu 50 dólares por uma hora do tempo daquelas pessoas que anunciavam no jornal. Explicava que era apenas uma entrevista simples, pra algo que não existia. Queria saber o motivo de elas estarem vendendo os objetos anunciados (jaqueta de couro, girinos, filhotes de gatos, álbuns de fotos, cartões de Natal) e fazia perguntas sobre suas vidas.

Ao longo das entrevistas, vamos entrando num mundo paralelo, porém real. Mais real impossível. A cada pessoa entrevistada, encontramos um pouco de nós mesmos. Comparamo-nos, detestamo-nos, envergonhamo-nos. Emocionamo-nos. Anônimos, solitários, sonhadores. Pessoas que parecem morar aqui do ladinho de casa. Pessoas que têm em comum algo surpreendente, desses ‘algos’ da vida que vêm como uma bênção em nossos caminhos tortuosos e solitários. Gente que faz a gente não se sentir tão sozinho dentro de todas as esquisitices possíveis e imagináveis de alguém como eu.

Esse foi um dos poucos livros que fiquei triste porque acabou. Não triste pela história do livro. Mas eu não queria que as entrevistas tivessem chegado ao fim. Chorei por Joe, por Miranda, mas principalmente por Carolyn.

Meu escolhido foi Domingo. Nada, ninguém, em momento algum da minha vida vai me surpreender como ele.

Recomendo a quem precisa de mais vida real.


Título: O escolhido foi você
Autor: Miranda July
Ano: 2013
Páginas: 218
Editora: Companhia das Letras


"... eu sabia que me esqueceria daquilo em menos de uma hora, e depois, me lembraria, e me esqueceria, e me lembraria. Cada vez que me lembrasse, seria um pequeno milagre, e me esquecer era tão importante quanto."


sábado, 11 de janeiro de 2014

A Insustentável Leveza do Ser

Milan Kundera e seu primoroso romance, aquele capaz de levar um ser pensante a loucura. Capaz de levar mesmo aquele ser que não é habituado a pensar, a pensar.
Estamos no ano de 1968. A invasão russa é algo presente. A dor, a perda, o vazio que impera num período de guerra são os fatores principais que levam a construção dos personagens como uma bússola, controlando o ritmo das emoções e sonhos desses quatro seres, que de tão leves escorregam pelos nossos olhos à medida que a história é narrada.

Franz e Sabina, Tomas e Tereza.

Impossível contar aqui a profundidade desses seres. Impossível entender em dois parágrafos (num volume de informação aceitável em qualquer resenha) o que esses quatro seres, que entrelaçados formam cada um de nós.
O brilhantismo do autor nos cega nos pontos em que nos mostra Sabina, escorregadia e determinada. Incansável caçadora de prazer. Aquela que teme encontrar. Lemos nas cenas em que Sabina encontra o prazer o auge da narrativa do erotismo. Kundera, mestre no assunto, consegue atingir a perfeição de sua narrativa ali.
O sonho de Franz, o alcance do amor impossível. A permissividade de Tereza, sua fragilidade e seu amor por Tomas. Tomas, sua coleção de mulheres e suas razões para tal. Quatro intelectuais que, à medida que a guerra e a repressão intensificavam, faziam de suas relações afetivo-sexuais o único subterfúgio de uma tentativa de liberdade, de se alcançar algum objetivo na vida.
Kundera discute alguns pontos que, pra mim, foram primordiais na questão da compreensão da leveza do ser: "Deus e a merda", "o kitsch europeu", "o Ess Muss Sein de nossas necessidades", "a dor e as razões da traição" e a “busca pela liberdade”.
A obra foi escrita por alguém sufocado, com as mãos atadas diante de tamanhas crueldades vividas, com a boca cheia de esparadrapos, com o peso do mundo nas costas.
Ideal para qualquer ser pensante, que de alguma forma se sente incompreendido, traído por aqueles que juravam acreditar nos mesmos ideais, amantes da liberdade e que, por isso, carregam nas costas todo o peso da hipocrisia do mundo. Carregam o peso de saber e entender o jogo óbvio de interesses nas relações dos seres humanos, da forma em que somos apenas peças num jogo de um manipulador que usa o outro ser apenas como parte de um objetivo e o descarta no momento em que não precisa mais dele. 
Esse peso é o peso de quem pensa.


Karenin, o cão, é o personagem que lhe tira esse peso das costas, e te mostra a beleza da leveza do ser.

Título: A insustentável leveza do ser
Autor: Milan Kundera
Ano: 1984
Páginas: 314
Editora: Nova Fronteira
11ª Edição



"... a vida humana só acontece uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dado uma segunda, uma terceira ou uma quarta vidas para que possamos comparar decisões diferentes."

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sobre as portas que batemos



- Vou desistir de tudo hoje.
- Não, não vai.
- Por que você tem tanta certeza disso?
- Se você me procurou pra dizer isso é porque não vai desistir de nada.
- Verdade.
- Então me diz. Por que eu?
- O copo transbordou.
- Desde quando existe o copo?
- Não me lembro.
- O copo não deve existir. Só o vazio dentro dele. Esse buraco sem forma, sem volume, sem gosto. Esse sim     precisa existir. Mas o copo não.
- Meu copo está quebrado.
- Às vezes não está quebrado. Às vezes é assim mesmo.
- Machucam-me. Os cacos.
- Pensa no vazio. É só ele que importa agora. Decida a importância dele pra você. Aceite. O copo não existe. A aceitação é o último estágio do luto.
- Posso ficar aqui do teu lado?
- Entre. Quer um copo d'agua?