sábado, 11 de janeiro de 2014

A Insustentável Leveza do Ser

Milan Kundera e seu primoroso romance, aquele capaz de levar um ser pensante a loucura. Capaz de levar mesmo aquele ser que não é habituado a pensar, a pensar.
Estamos no ano de 1968. A invasão russa é algo presente. A dor, a perda, o vazio que impera num período de guerra são os fatores principais que levam a construção dos personagens como uma bússola, controlando o ritmo das emoções e sonhos desses quatro seres, que de tão leves escorregam pelos nossos olhos à medida que a história é narrada.

Franz e Sabina, Tomas e Tereza.

Impossível contar aqui a profundidade desses seres. Impossível entender em dois parágrafos (num volume de informação aceitável em qualquer resenha) o que esses quatro seres, que entrelaçados formam cada um de nós.
O brilhantismo do autor nos cega nos pontos em que nos mostra Sabina, escorregadia e determinada. Incansável caçadora de prazer. Aquela que teme encontrar. Lemos nas cenas em que Sabina encontra o prazer o auge da narrativa do erotismo. Kundera, mestre no assunto, consegue atingir a perfeição de sua narrativa ali.
O sonho de Franz, o alcance do amor impossível. A permissividade de Tereza, sua fragilidade e seu amor por Tomas. Tomas, sua coleção de mulheres e suas razões para tal. Quatro intelectuais que, à medida que a guerra e a repressão intensificavam, faziam de suas relações afetivo-sexuais o único subterfúgio de uma tentativa de liberdade, de se alcançar algum objetivo na vida.
Kundera discute alguns pontos que, pra mim, foram primordiais na questão da compreensão da leveza do ser: "Deus e a merda", "o kitsch europeu", "o Ess Muss Sein de nossas necessidades", "a dor e as razões da traição" e a “busca pela liberdade”.
A obra foi escrita por alguém sufocado, com as mãos atadas diante de tamanhas crueldades vividas, com a boca cheia de esparadrapos, com o peso do mundo nas costas.
Ideal para qualquer ser pensante, que de alguma forma se sente incompreendido, traído por aqueles que juravam acreditar nos mesmos ideais, amantes da liberdade e que, por isso, carregam nas costas todo o peso da hipocrisia do mundo. Carregam o peso de saber e entender o jogo óbvio de interesses nas relações dos seres humanos, da forma em que somos apenas peças num jogo de um manipulador que usa o outro ser apenas como parte de um objetivo e o descarta no momento em que não precisa mais dele. 
Esse peso é o peso de quem pensa.


Karenin, o cão, é o personagem que lhe tira esse peso das costas, e te mostra a beleza da leveza do ser.

Título: A insustentável leveza do ser
Autor: Milan Kundera
Ano: 1984
Páginas: 314
Editora: Nova Fronteira
11ª Edição



"... a vida humana só acontece uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dado uma segunda, uma terceira ou uma quarta vidas para que possamos comparar decisões diferentes."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.