quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sobre o fenômeno


Num certo dia, fuçando ociosamente pelas redes sociais na internet, me pego intrigada por ver repetidas vezes a imagem da capa de um livro que seria lançado aqui no Brasil, com chamadas do tipo: ‘o maior fenômeno mundial’, ‘bestseller em 38 países’, bla bla bla... O título chamou atenção, bem como a imagem de uma gravata cinza prateada. Do que se trataria?

Resolvi ler. E sim, o livro é um fenômeno. Desses que acontecem de vez em quando. Um livro mal escrito, repetitivo (ela morde os lábios 294 vezes), feito sob medida para um público digamos, de alma feminina e que já está meio velho pra ler a saga Crepúsculo. Uma história de 2 personagens principais, 4 personagens secundários e 2 citados o tempo todo, mas que nunca apareceram de fato. Um homem com preferências sexuais peculiares (comum para muitos hoje em dia, mas aterrorizantes para as donas de casa americanas) e uma garota virgem e atrapalhada. Um homem trilhardário e uma garota que dirige um fusca velho. Imagina, nada clichê. Sequências detalhadas de atos sexuais ‘proibido para menores’,  diálogos moralistas misturados com um tom de diário da 8ª. série.

É um fenômeno porque você não consegue parar de ler. De jeito nenhum. Precisa saber o que vai acontecer. Simples assim. Li em 4 dias, compulsivamente dentro dos transportes públicos, me contorcendo pra que ninguém ‘pescoçasse’ e descobrisse que eu estava lendo um romance erótico. 

Enfim, terminei o livro num domingo a noite e passei 2 dias pensando nos personagens e pesquisando sobre o filme que está sendo produzido ‘based on this novel’.

Passado o surto pós-leitura-mamão-papaya, compensei minha alma com mais uma aventura de Jack Kerouac, e calmamente absorvi toda a decadência beatnik em Big Sur, sorrindo, chorando, pensando, como só Kerouac consegue me fazer.  Feito isso, corri pra livraria e comprei a continuação do tal livrinho estranho-fenômeno, e cá estou eu, me preparando com um copo de chá, um setlist de música clássica (ah, sim, eles ouvem muita música clássica na mansão de Grey) e um abajur aceso sob minha cabeça. Eu e minha estranha bipolaridade literária.

Nessas horas, eu me lembro de um amigo cinéfilo, cujo gosto e conhecimento sobre cinema são de níveis altíssimos que um dia me confessou que gostava do filme ‘Super Xuxa contra o Baixo Astral’. 

Hoje eu o entendo.