Sobre o fenômeno
Num certo dia, fuçando
ociosamente pelas redes sociais na internet, me pego intrigada por ver
repetidas vezes a imagem da capa de um livro que seria lançado aqui no Brasil,
com chamadas do tipo: ‘o maior fenômeno mundial’, ‘bestseller em 38 países’,
bla bla bla... O título chamou atenção, bem como a imagem de uma gravata cinza
prateada. Do que se trataria?
Resolvi ler. E sim, o livro é um
fenômeno. Desses que acontecem de vez em quando. Um livro mal
escrito, repetitivo (ela morde os lábios 294 vezes), feito sob medida para um
público digamos, de alma feminina e que já está meio velho pra ler a saga
Crepúsculo. Uma história de 2 personagens principais, 4 personagens secundários
e 2 citados o tempo todo, mas que nunca apareceram de fato. Um homem com
preferências sexuais peculiares (comum para muitos hoje em dia, mas
aterrorizantes para as donas de casa americanas) e uma garota virgem e
atrapalhada. Um homem trilhardário e uma garota que dirige um fusca velho.
Imagina, nada clichê. Sequências detalhadas de atos sexuais ‘proibido para
menores’, diálogos moralistas misturados
com um tom de diário da 8ª. série.
É um fenômeno porque você não
consegue parar de ler. De jeito nenhum. Precisa saber o que vai acontecer.
Simples assim. Li em 4 dias, compulsivamente dentro dos transportes públicos,
me contorcendo pra que ninguém ‘pescoçasse’ e descobrisse que eu estava lendo um romance erótico.
Enfim,
terminei o livro num domingo a noite e passei 2 dias pensando nos personagens e
pesquisando sobre o filme que está sendo produzido ‘based on this novel’.
Passado o surto pós-leitura-mamão-papaya,
compensei minha alma com mais uma aventura de Jack Kerouac, e calmamente absorvi
toda a decadência beatnik em Big Sur, sorrindo, chorando, pensando, como só
Kerouac consegue me fazer. Feito isso,
corri pra livraria e comprei a continuação do tal livrinho estranho-fenômeno, e
cá estou eu, me preparando com um copo de chá, um setlist de música clássica
(ah, sim, eles ouvem muita música clássica na mansão de Grey) e um abajur aceso
sob minha cabeça. Eu e minha estranha bipolaridade literária.
Nessas horas, eu me lembro de um
amigo cinéfilo, cujo gosto e conhecimento sobre cinema são de níveis altíssimos que um dia me confessou que gostava do filme ‘Super Xuxa contra o Baixo Astral’.
Hoje eu o entendo.
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