sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Vai ser assim.

Você vai me encontrar em algum lugar inusitado, daqueles em que nunca imaginaríamos conhecer alguém tão especial. Isso acontecerá num dia que eu estiver focada em alguma outra coisa que não seja ‘relacionamento’. Num dia em que eu não vou acordar me importanto com fato de ser solteira há tanto tempo. E o pior, o fato de ainda não saber o que é um relacionamento convencional. E morrer de vontade de experimentar.

Vamos nos olhar, vamos nos falar. Teremos coisas em comum, mas muitas coisas a aprender com o outro. Teremos uma canção, uma poesia, um filme, uma foto. Teremos uma rotina.

Você não será perfeito. Eu também não tentarei ser perfeita. Respeitarei meus sentimentos e te falarei exatamente aquilo que espero no momento.

Quero poder mostrar meu romantismo e tudo aquilo que tenho a oferecer a alguém que me aceite um pouco, que me deseje muito, que me enlouqueça de rir de vez em quando.

Teremos piadas internas, tiradas sarcásticas, caretas bobas de manhã. Você não se assustará com meus eventuais comentários e opiniões sobre certas peculiaridades humanas.

Planejaremos.

Aprenderemos a viver melhor, seremos disciplinados e calmos. Pensaremos antes de falar. Não, não seremos o casal do tipo perfeito, mas nos respeitaremos mutuamente.

Que acredite em algo. E principalmente que acredite em si mesmo.

Vai durar tempo necessário para que cumpramos o que tivermos que cumprir um com o outro. Que seja um mês ou uma vida. Ou duas.

Não te prometo a utopia da felicidade. Mas prometo dar-te amor, e te provar que vale a pena viver.

Ao meu lado, de novo, como sempre.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

2011, o ano que eu li

Escolhi esse ano para ler. Foi um ano que eu esperava ter há muito tempo. Desde os tempos dourados da faculdade de Letras. Uma pena que naquele tempo eu lia mais por obrigação do que por prazer. Ironias da vida.

Decidi conhecer mais de perto algumas figuras femininas que sempre admirei. As biografias de Madonna (Lucy O’Brien), Oprah Winfrey (Kitty Kelley), Clarice Lispector (Benjamin Moser), Emily Dickinson (Judith Farr) e Só Garotos (Patti Smith) me serviram de prato cheio pra manter minha postura ‘alternativa e indignada’. Todas elas são/eram. E todas mereceram uma biografia. Me deram ótimos argumentos pra continuar não querendo ser igual à maioria. Surpreendentemente, decidi ler sobre a vida de Steve Jobs (Walter Isaacson). Mais um filho-da-puta-gênio que eu vou agradecer o resto da minha vida. Juntamente com todas as mulheres que citei acima.

Todos sabem do meu interesse pelo universo beat. Kerouac me fez companhias por diversas manhãs e muitas noites silenciosas com as obras: Cidade Pequena Cidade Grande, On The Road, Viajante Solitário e Os Subterrâneos.

Também consegui dividir um pouco do porre, da sacanagem, grosseria e poesia de Chales Bukowski. Hollywood, Mulheres, Pulp e Crônicas De Um Amor Louco me deixaram bêbada. Ainda me curo da ressaca que é lê-lo.

Dentro da variedade literária da doutrina Espírita, esse ano escolhi Direito de ser feliz (Eliana Machado Coelho/Schellida), aprendi muito com Missionários da Luz e No mundo maior (André Luiz / Francisco Cândido Xavier) e me emocionei com Há dois mil anos (Emmanuel/Francisco Cândido Xavier).

Alguns livros me fizeram suspirar e chorar em público. As Ponte de Madison (Robert James Waller), O Mundo Pós-Aniversário (Lionel Shriver), Cartas à um Jovem Poeta (Rilke), Travessuras da Menina Má (Mario Vargas Llosa) e O Diário de Anne Frank, por exemplo. Alguns livros me deram cólicas. Antes Que Anoiteça (Reinaldo Arenas), Angústia (Graciliano Ramos), Perfume (Patrick Suskind) e Porque Não Sou Cristão (Bertrand Russel), por exemplo.

Com A Intimação (John Grisham), eu perdi meu tempo.

De Clarice Lispector absorvi e rabisquei milhares de frases de efeito para eventuais necessidades: Um Aprendizado ou o Livro dos Prazeres, A Paixão Segudo G.H. e Perto do Coração Selvagem.

Com Clarissa (Érico Veríssimo), eu sorri. E pisquei meus olhos muitas vezes durante a leitura. Eu pisco muito os olhos quando estou alegre.

Ainda há um mês pela frente. Planejo encerrar o ano sincronizando a literatura com meu momento atual. Lerei Anais Nin.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Celeuma

Eu ainda desejo praticamente as mesmas coisas que desejava quando tinha 15 anos. Eu ainda rezo e peço pelo mesmo. Eu ainda não entendi que, se depois de todos esses anos eu ainda não fui atendida, é porque a resposta pode ser ‘não’. Eu insisto. Eu xingo, eu choro, rogo, imploro. Estupidamente, eu ainda acredito.

E é essa crença que me faz perceber que de vez em quando o universo finge que me escuta. E me dá coisas que peço, claro que fracionadas em 100. É como se eu pedisse o mundo, e ganhasse um punhado de terra. Tudo bem. A terra faz parte do mundo. Eu ganhei um pedaço dele.

E é pra isso que estou olhando agora. Que adormece silenciosamente ao meu lado. Que respira tão profundamente que parece estar roubando todo o ar desse quarto semi-iluminado. Que me deixa sem ar. Que me fez lembrar de mim. Que me fez me olhar no espelho por inteiro.

Mas um punhado de terra é muito pouco pra quem deseja o mundo.

Estou satisfeita por ter me sentido feliz. Estou triste porque, de novo, não sei o que fazer depois da felicidade. Me sinto mais confortável assim. Sem saber o que fazer depois que se é feliz.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

(...)

Desde que decidi publicar apenas um texto por mês, ganhei a tranquilidade e a segurança. A tranquilidade de não ter que me forçar a produzir e a segurança de ter trinta dias para me inspirar, ler, pesquisar e montar um texto na minha cabeça. E foi exatamente isso que aconteceu nesse último mês. Eu tinha um texto pronto. Começo, meio e fim. Título e referência.

E a vida me surpreendeu com um bloqueio imenso. Um bloqueio que me deixou quatro horas olhando para essa tela vazia. Que me fez escrever e apagar centenas de vezes o mesmo parágrafo. Que me fez até ter saudade de escrever numa máquina de escrever, só para ver o cesto de lixo cheio de papéis brancos e amassados. Sempre gostei desse cenário.

Gosto de ter no que pensar. Sinto prazer em tirar alguns minutos por dia para pensar em mais uma frase para meu texto. De procurar a melhor palavra, a melhor forma de expressar o que preciso expressar. Dizer aquilo que só sei dizer quando escrevo.

É até engraçado pensar que um texto pronto não consegue passar pelos meus dedos e entrar nessa tela. A vida e suas surpresas.

Intimamente sei que tal bloqueio se deve ao fato de que não estou pronta, ainda, para falar sobre o que preciso falar. Ainda não estou segura o suficiente para tocar num assunto tão delicado. Meu orgulho (ah, eterno orgulho) me impede de vomitar publicamente aquilo que realmente me faz mal. A hora certa chegará, e essa azia de palavras estragadas no meu estômago finalmente sairá e me aliviará.

Um sofisma triste. Estou escrevendo sobre a minha incapacidade de escrever. Estou desabafando sobre a minha incapacidade de desabafar.
É o máximo que consegui tirar de dentro desse vazio covarde que nesse momento habita em mim.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Simples Assim

E a cada vez que você vai embora, o silêncio parece ficar menos doloroso. Não por eu gostar mais do silêncio, e sim por eu conseguir ouvir minha própria voz dentro de mim. Assim como você consegue ouvir o meu silêncio. Assim como você consegue entendê-lo.

Por quê eu sempre sinto que nosso último abraço tenha talvez sido o último abraço? Talvez porque o cheiro da sua nuca, a força dos seus braços e o calor da sua pele já estejam cravados em minha alma. Talvez porque eu esteja tão suficientemente preenchida deles que já não precise mais de nenhum.

De repente você vem, preenche alguns momentos e colore meu mundo com suas cores de Almodóvar. E no mesmo ‘de repente’, você vai embora. Engraçado. Cada vez que você vai embora, sinto que te amo menos. Talvez porque todo meu corpo já está preenchido de você, dentro de mim, que nem é preciso chamar tudo isso de amor. Já não é mais nada. Apenas é.

E quem andar do meu lado, deverá saber que andará ao seu lado também. Que aceite essa condição. Que respeite tudo isso que existe dentro de mim. Que entenda esse nada, esse silêncio, essas lágrimas presas na garganta. Esses abraços que já não preciso mais dar. Que saiba que grande parte dos meus sorrisos vêm de você, que me fez entender a importância de cada sorriso meu. Que te agradeça por isso.

Já não é mais nada. Mas é eterno.

É.

sábado, 30 de julho de 2011

REGRAS DA VIDA

Pra acordar: Despertador, oração, café com leite.

Pra dormir: Ban-chá, televisão ligada.

Pra tomar banho: Esfoliantes e música.

Pra parar de reclamar tanto da vida: Boa comida e livros de José Saramago.

Pra falar "puta que o pariu": Ônibus atrasado, filme com animais que falam.

Pra rir: Espelho, amigos, qualquer tipo de preconceito em pleno século 21.

Pra chorar: Greve de metrô, chuva matinal.

Pra beijar: Halls, música e barba.

Pra ouvir: Minha mãe, meu pai e Madonna.

Pra entender que a vida é uma bosta: Livros de Clarice Lispector.

Pra assistir com amigos: Nascer do sol.

Pra odiar o sistema: Propaganda de margarina.

Pra me emocionar: Despedidas.

Pra me sentir uma ignorante: Física Quântica.

Pra não me sentir sozinha: Família, Amigos, Café, centro de São Paulo.

Pra enlouquecer: Tatuagens e óculos escuros.

Pra morrer: Churrasco grego com suco grátis.

Pra viver: Comunicação, arte, cultura e informação.

domingo, 12 de junho de 2011

Finalmente.

... e foi no meio daquelas risadas que acabam virando choro que ela entendeu que em sua vida nada seria diferente. Por que diabos agora seria diferente? E mais uma risada, e mais um grito de dor. Tudo tão desesperadamente repetitivo que até mesmo aquela dor no estômago já não doía mais. Nem aquela tremedeira assustava mais. 'É sempre assim'.

E bebeu um gole daquele café extra-forte, puro, sem nada para adoçar. Na esperança de que anularia um pouco o amargor da língua. O amargor das palavras não ditas, dos beijos não dados. O doce amargor do desejo. Do único dia do ano em que ela desejava não acordar.

‘Por que sofrer tanto assim por uma data tão comercial, materialista e fútil?’. Não, esse era um pensamento radical demais pra quem tinha o desejo de uma alma mais afetuosa e aquecida. Concluía então, que sua pressa e afobação eram as grandes culpadas de tanto amargor. Aquela pressa que a fazia se apaixonar com tanta rapidez, tão instantaneamente quanto seu café. Aquele desejo de ser amada por qualquer pessoa. Qualquer um que a endereçasse um olhar terno, e uma mão em seus ombros. Não era a pessoa que ela queria. Era simplesmente a vontade de ter alguém. A vontade de ter alguém para cuidar. A culpa da maternidade tardia. As conseqüências das escolhas da juventude.

Ela já não se cabia mais de tantas perguntas quando começou a rir de novo. Rir, rir e rir. E conseqüentemente, chorar. Olhou-se no espelho e tentou ser grata com aquilo que via. Não havia se penteado ainda e ao redor de seus olhos ainda permaneciam os restos da maquiagem da noite passada. O inchaço resultante das lágrimas e o riso doloroso se misturaram e ela gostou do resultado. Um belo rosto. Sentiu que nada precisava para se sentir mais bela. A beleza de aceitar e saber rir (mesmo que em meio a choros ridículos) que tudo está como deveria estar. Que nunca havia sido tão feliz quanto estava sendo naquele momento. Que soube ser grata por ter acabado de entender, finalmente, que a dor não é necessariamente um mal.

Adoçou o café com mais açúcar que o normal e bebeu.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Outono

Quando tudo parece estar se encaixando, entrando no lugar, montando aquilo que chamo intimamente de ‘felicidade equilibrada’, tudo, tudo isso parece desmoronar deliciosamente como uma cascata de chocolate desmorona aos olhos de uma criança pobre.

É o eterno querer aquilo que não se pode ter. E quando se tem, não é o suficiente. É a preguiça de viver que faz com que me proteja embaixo de meu teto, observando as marcas nas paredes de uma época em que não sabia o que era não-viver.

É a eterna culpa na madrugada fria, depois que se tenta viver. Por quê parece tudo tão errado? Por quê tudo que quero é tão errado? Eis a resposta impossível. A razão dessa culpa infantil, desse arrependimento de uma puberdade guardada, socada no fundo da alma, não-vivida. É a sensação de que vivi, mas erroneamente. Se tento seguir caminhos retos, não sou eu. Eu sigo caminhos tortos, e me culpo. Não achei que viver fôsse tão parecido com o não-viver, que por sinal, não tem nada a ver com morrer. É apenas existir.

Então eu existo. Eu faço parte de uma sociedade que me cobra pelo quase impossível. E eu tento arduamente me adaptar, não pedir, não culpar, não cobrar, não julgar. E em troca, eu me culpo, eu me cobro, eu me julgo.

Chegar à conclusão de que, nesse momento, eu apenas existo me deixa mais aliviada. Quem apenas existe não sente. Apenas existe, preenche espaços, cumpre os deveres de um cidadão e respeita as instituições. É hora de apenas seguir o contrato social.

Volto a viver sim, seja nessa vida ou numa próxima.

domingo, 24 de abril de 2011

Uma carta de amor

Eu te odeio. Mas eu te odeio tanto, tanto, que esse ódio não me deixa. E a cada nova experiência amorosa que vivo, esse ódio aumenta. E mais, e mais.

Eu te odeio por você ter sido o melhor namorado pra mim. Eu te odeio por você ainda ser meu melhor amigo. Eu odeio o seu jeito de dançar, de beijar, de fazer amor. Eu odeio me lembrar da forma com que você me olhava de manhã, quando acordava e fazia uma piada. De como você me fazia cócegas só pra me ver nervosa. De como você adorava cozinhar seus risotos de pêra. Odeio o seu cheiro no meu travesseiro, o seu cheiro encravado na minha pele. Simplesmente odeio saber o que é cinema, enquadramento, atuação, direção, fotografia, trilha sonora, Truffaut, Bergman, Fassbinder, Bertolucci. Pois até te conhecer, Titanic, Matrix e Cidade dos Anjos eram as melhores coisas que tinha visto. Eu odeio me lembrar do seu jeito lindo quando tocava na Loca com seus fones de ouvido e seu sorriso cansado. Até mesmo Madonna não é a mesma. Ela era erótica, e pronto. Ela era pop, e só. Não... Depois de você, Madonna é uma mulher complicada e cheia de influências de arte pura. Barbra Streisand cantava bem antes de conhecer Aimee Mann.

Era simples. Minha vida era simples. E você veio pra dificultar.

Eu te odeio. Odeio porque eu acreditava no amor. Naquele mais simples, sexualmente submisso e manipulativo. Você me convenceu que era melhor não sonhar com uma casa de cercas brancas e sofás cor de marfim. Que isso era a representação mais hipócrita da classe média. Eu acreditava nas instituições, no PSDB, no Criança Esperança e na Rede Globo. Sim, eu tinha fé em coisas fáceis. Em coisas que todo mundo têm fé.

Por que você me ensinou História da Arte? Por que você me ensinou Historia do Cinema? Por que discutimos filosofia por tantos anos? Não queria saber o que é epistemologia e alter-ego.

Eu não sabia e era feliz.

Odeio passar por lugares onde sentamos por tardes inteiras roteirizando a vida das pessoas que passavam por nós. Odeio reler os roteiros que fizemos pros filmes que nunca produzimos, pras sketches que nunca apresentamos e pros vídeo clipes que nunca foram ao ar.

Odeio-te mais ainda por você ter me amado e me admirado. Sem jogos, sem simulações, sem mentiras brancas, sem esconder o passado, sem hipocrisia. Por você ter visto coisas belas por debaixo da minha capa de gordura. Por você me amar mesmo sabendo quantas calcinhas minhas estão furadas, e fazer piada de todas. Por você ter me provado o quanto eu merecia as noites de luxúria nos hotéis baratos da Rego Freitas e nos bares engordurados da Vieira de Carvalho. O quanto eu merecia conhecer pessoas de verdade, e que só nesses lugares as encontramos. O quanto precisava tratar pedintes, atendentes, moradores de rua, travestis, michês e putas, como se estivesse tratando comigo mesma. O quanto é importante enxergar o próximo que realmente precisa da minha atenção. Era tudo mais simples e menos sofredor quando eu os ignorava e tinha medo deles.Tudo.

Odeio-te por ter me deixado sozinha, com tudo isso dentro de mim. Odeio como isso virou motivo de fuga pra todos os homens que encontro. E eu odeio ter que te dizer tudo isso aqui, nesse email. Odeio a falta de coragem de ter te dito isso olhando em seus olhos, pois odeio seus olhos críticos.

Odeio você por você se odiar tanto. Tanto a ponto de achar que não merecia meu amor.

Odeio nosso amor pelo ódio.

Amo nosso ódio pelo amor.

E me odeio mais ainda por não ter entendido direito o que era seu ódio. Que não tinha nada a ver comigo, que você nunca havia me odiado.

Você só odiava o meu amor por você. Que era pequeno, egoísta, orgulhoso e vaidoso. E você, que havia me oferecido um relacionamento verdadeiro, acabou conhecendo alguém que só amava o amor que sentia por você. E nunca havia amado você de verdade. Não como você me amou. E eu me odeio por isso. Muito mais do que você.

Published on November 11, 2009.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Experienciando, experimentando, expiando, aprendendo e mais uma vez, concluindo

Eu consigo viver sem esmalte nas unhas. Dói os dedos no começo, faz falta, parece que estou nua. Mas aprendi que não preciso deles pra viver, e ninguém gosta mais ou menos de mim por causa disso.

Ter amigos é maravilhoso. Mas provei que ficar sozinha é sempre uma boa solução pra quem está eternamente em busca de algo. Quem gosta da minha companhia e gosta de mim entende. Continuo amando todos da mesma forma. A presença é constante em meus pensamentos, minhas memórias e orações.

Internet, redes sociais, ultra-exposição são divertidos. Mas não são essenciais pra minha sobrevivência. Vicia, alucina. Informa pouco e enerva muito. Desnecessário contar que acordou, comeu, peidou, trabalhou e dormiu todos os dias.

Ver TV é desnecessário também. Principalmente tv aberta. Filmes, documentários, musicais agregam cultura e informação. Melhor que o Datena pedindo pena de morte e te fazendo ter ódio de gente que você nem conhece. Melhor que novela brega com final feliz. Futebol e F1 continuam sendo minhas únicas horas de alienação, mas sem fanatismo, sem sofrimentos, sem discussões. Há duas semanas não vejo praticamente nada. Li 4 livros e dormi bem melhor.

Ter fé é bem melhor do que não ter. Melhora sua vida em todos os aspectos. Acreditar que existe algo superior e que você pode falar sozinho no seu quarto com seus amiguinhos transparentes não significa que você é louco.

Ter amigos íntimos de classe social muito acima de você também não é tão agradável. No final, você sempre terá que inventar alguma desculpa pra não ir aos eventos, pois não tem dinheiro suficiente. E lembre-se, você ainda corre o risco de ser a ‘amiga pobre que vai estragar as viagens dos ricos porque não tem dinheiro pra viajar junto’. Faz mal pra autoestima, pros bolsos e pro ego. Por favor, entendam: não tenho raiva de quem tem mais dinheiro que eu. Apenas fazem parte de um universo diferente do meu. E sempre convivo muito bem com todos ao meu redor, de forma respeitosa e carinhosa.

Perdi muitos, muitos quilos e continuo solteira, temporariamente celibata e em busca de um amor. Pois é. Ser gorda nunca foi o problema. O problema é a falta de homem mesmo. Homens de atitude, solteiros, saudáveis e espirituosos são, na maioria das vezes, homossexuais.

Já não aceito ser amante há um bom tempo. Concluí que ser amante é falta de amor-próprio e só acumula energias negativas.

Praticar exercícios físicos é bom, é maravilhoso. Sem excessos, sem obrigação. Melhor e mais barato que terapia.

Provei que posso viver sem álcool no organismo. Ainda luto contra a necessidade de nicotina, mas sei que já consigo viver sem ela.

Ser loira é legal. Porém, não significa que vão gostar mais ou menos de você por isso. Há homens que só procuram por mulheres loiras (muito disso é culpa de Hollywood). Experimentei ser loira por 2 meses. Não fiquei mais rica, não desencalhei e nem fiquei mais inteligente. Ao contrário, meu cabelo ressecou, gastei mais com produtos específicos e salões de beleza.

Concluo que não é dificil ser careta, fisica e espiritualmente saudável sem deixar de ser autêntica. Melhora sua conta bancária e seu nível vibratório.

segunda-feira, 14 de março de 2011

CONCLUINDO

Você chegou assim, como quem não quer nada. Sem avisar, sem bater, sem chamar.

Simplesmente apareceu e começou a mudar a minha rotina. Aquela rotina que preservei por tanto tempo, com tranquilidade, alegrias leves assim como as tristezas. Tudo estava bem, e você veio. Pra mexer, chacoalhar, sacudir todos os órgãos do meu corpo.

Chega a ser animalesca a sensação de estar perto de você. A vontade da carne. Tudo grita dentro de mim, ardendo de desejo, de vontade de extravasar esse sentimento sufocado. O que fazer?

Absolutamente nada. Não há nada a fazer.

Pra começar, o sentimento é de cunho animal. Segundo, eu não fui sincera com meus sentimentos, e terceiro, não respeitei todas as minhas vontades.

Você me encostou na parede e me ofereceu aquilo que todos sempre me oferecem. Eu te daria um pouco de prazer e você me retribuiria com um coração partido. E te daria o gozo e você tiraria minha paz.

Não há nada a querer.
Não quero ninguém que me deixe gritando por dentro, que me faça querer extravasar nada.

Quero um amor calmo, silencioso e pacífico. Quero um amor aberto, sem nada a esconder.
Há muito o que desejar? Sim. Muito. Seu cheiro, seu sorriso, seu corpo. Eu desejo muito tudo isso. Assim como desejo aquela cobertura nos Jardins, assim como desejo acordar ao lado do Johnny Depp. Apenas fantasias que não me fazem sofrer. Você se transformou em minha fantasia. Das mais sujas, mais sacanas, mais luxuriosas.

Não há mais nada a dizer.
Adeus.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Gênese

Eu tinha uma melhor amiga. Vamos chamá-la de Clarissa, pois sempre gostei desse nome e quero muito preservar a imagem de minha amiga, hoje casada e mãe de dois filhos lindos.

Quando nos conhecemos, nossas vidas eram cheias de ‘nada’. Não fazíamos absolutamente nada naquela época. O maior feito foi ter passado no ‘vestibulinho’ da escola técnica de secretariado. Não tínhamos namorados, vida social, amigos e viagens. Ela era fã de Vanilla Ice e eu, de New Kids On The Block. Não tínhamos Nike Air Rosa Choque, o que nos excluiu de todas as atividades extracurriculares. Não depilávamos o buço e não tirávamos sobrancelha. O único menino que ficou a fim da gente (isso mesmo, da gente) tinha cara de porquinho. Ah, santa adolescência.

Certo dia, esse nada se transformou em algo. Em algo importante. Muito importante. Fui pra casa dela fazer trabalho de escola, estávamos batendo ele à máquina (de escrever, lembram?) e preocupadas com nossos ‘frufrus’ verde-fluorescente da Pakalolo. Naquela época a Elke Maravilha tinha um programa de entrevistas a tarde no SBT. E nessa tarde, ela entrevistou uma figurinha muito estranha, mas que nos deixou boquiabertas e com os olhos vidrados. O nome da entrevistada era Dimmy Kier, uma das primeiras Drag Queens brasileiras. Ela estava lá pra explicar pras donas de casa o que era aquilo, a diferença entre elas e as transformistas do Show de Calouros, etc. Algo aconteceu dentro de nós, e ficamos histéricas.

Passamos a procurar tudo que se relacionasse ao mundo das Drag Queens. Jornais, revistas, TV. E descobrimos um lugar chamado Massivo. E ficamos correndo atrás de amigos gays pra nos levarem as boates para vermos as Drag Queens. Assistíamos Na Cama com Madonna sonhando em estar no meio deles. Descobrimos a House Music, Drag Music, e mais um monte de coisa que grita. Re-descobrimos Madonna.

Até ir pra uma balada gay, eu tinha beijado uns 2 meninos. Já estava indo pra Faculdade de Letras, e a vida emocional não andava. Nesse momento da minha vida, eu já conhecia uma meia dúzia de pessoas do meio, e fui levada pra antiga Nation na Praça Roosevelt. Naquela noite, uns 3 caras bem alegrinhos me tascaram beijos na boca. Voltei pra casa feliz por não ter sido chamada de ‘Arigatô, Sayonará’ a noite toda, coisa que sempre acontece em baladas heterossexuais. Lá na Nation eu não era uma estranha. Eu era exótica, e essas pessoas adoram ‘as exóticas’. Eu poderia me vestir do jeito que quisesse, dançar como bem entendesse, beijar todo mundo sem medo, e ainda correr o risco de apanhar de skin-heads – violentíssimos no começo dos anos 90. Mas, acreditem, tinha gente que achava fino apanhar de skin heads!

A partir daí, freqüentei muitos inferninhos, muitas casas noturnas de bichas classe-média alta, bares, botecos, raves, etc. Fiquei amiga de todas as Drag Queens mais famosas, era promoter da Loca e do Massivo, fazia festa na Gent’s. Até que conheci meu primeiro namorado em uma dessas baladas, e fugimos pra Nova York. Minha família contrariou o namoro, por motivos bem óbvios.

E assim, hoje relembrei de todo o trajeto. Porque acordei me perguntando: Por que sou assim?

Sou assim porque desde 1993 eu vivo num mundo cor-de-rosa, muito divertido, entorpecido, esfumaçado, animado, ácido e que cheira Cândida com Pinho Sol. Um mundo paralelo a tudo que as pessoas conhecem de mim. Um mundo que, não adianta onde estiver, estará dentro de mim. Tendências? Karmas? Darmas? Ainda busco respostas. Ainda sofro um pouco a solidão de uma mulher heterossexual de 33 anos e solteira.

Eterno conflito.

Minha melhor amiga resolveu o conflito dela. Parou de sair pra lugares GLS aos 23 anos, se casou e tem uma família estruturada.

Será que é tarde demais pra mim?

Published Sunday, November 22, 2009
Re-edited - March 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ensaio de uma mulher só

Então eu acordei. Acordei procurando incessantemente algo dentro de mim que não sejam lembranças nem arrependimentos. Procurando respostas pra perguntas inexistentes.

Estou sóbria, no melhor sentido da palavra. Não sei o que fazer, não sei pra onde ir, não sei o que dizer, não sei o que comer. Não sei com quem falar.

Me sinto só, mesmo sabendo que não estou. As vezes, quero estar só e não consigo. Vivo como se estivesse numa sala de vidro, sendo observada o tempo todo. Tendo que sorrir à todos que passam ao meu redor. Tendo que me mascarar, e não tendo o direito a privacidade. Me sinto disponível sem a chance de dizer ‘estou ocupada’. Estou exposta como jamais estive.

Não é ruim. Não é bom. Não é triste. Não é alegre.

É apenas gelado.

Olho pra dentro de mim procurando por aquilo que não tem nome. Não encontro e me desespero. Gostaria muito de deixar de ser ‘eu’, pra me transformar em ‘nós’. Nós quem?

Os anos passam correndo, e a cada ano, penso em quando me sentirei parte da sociedade. Em quando as pessoas vão olhar pra mim sem me julgar por aquilo que não sou. Aquilo que pensam que sou. Sou muito mais do que imaginam. Mas não entenderiam se tentasse explicar. Explicar o quê?

Sou um grande vazio que tenta desesperadamente se preencher. Do quê?

Sinto nojo e náusea. Meu coração se aperta e minhas entranhas secam. Meu estômago grita e minha cabeça gira. Tudo é novo, tudo é estranho. Sou prisioneira voluntária de mim mesma. Minha alma não se liberta e o invólucro parece cada vez mais pesado.

Sonho sorrir de verdade novamente. Mas esse ‘eu’ não consegue. Esse ‘eu’ finge e se esconde. De quem?

Me escondo de mim mesma. Gritando em silêncio, chorando através de sorrisos e me entorpecendo através de livros e memórias.

A vida deveria ser bem mais que isso. Isso o quê?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A Vitrine


Já era mais de seis da tarde quando o velho e seu cachorro começaram a caminhar pela rua, quase deserta, naquele bairro distante. "Olá John", disse uma voz vinda de uma janela semi-aberta. O velho, sem ao menos desviar o olhar, acena com a cabeça, num sinal de positivo. Seu interesse era outro.

Há algum tempo atrás, John, o velho, deparou-se com aquela vitrine. Entre os muitos produtos expostos, comestíveis em geral, John encontrou aquilo que não imaginava. Como que um passe de mágica, seu cão também olhava fixamente para aquilo. Parecia que o desejo de seu dono ultrapassava a barreira do racional para o irracional.
Seu cão era o único que o entendia.

Por quase uma tarde toda, o velho ficou parado na frente daquela loja. Pessoas passavam por ele, entravam e saíam. Contudo, não o percebiam. O que o tranquilizava.
Apesar de sua condição social, as pessoas não diziam que John era um mendigo. Ele não se parecia com os demais moradores de rua da região. Ele se preocupava com sua higiene, vestimentas, não possuía barba, tampouco cabelos longos. Fato que o deixava participar da sociedade, e não era apenas um observador. Mas naquele momento, ele se transformava em um.
Observou o produto milhões de vezes. Prestou atenção em cada detalhe, e por vezes, fechava os olhos para se imaginar degustando-o, engolindo-o, e até mesmo o expelir se tornava atrativo em sua mente.
Imaginou cada segundo, até o cenário perfeito para o momento tão desejado.

O velho nunca havia tido uma televisão. Às vezes, parava em frente a uma loja que expunha suas grandes, médias e pequenas telas. Via o que estivesse passando. Numa dessas visitas, assistiu uma cena de um filme em que, um homem, sozinho, sentado num restaurante luxuoso, fazia sua refeição. Não. Não era aquela comida que John havia elegido como a comida mais desejada de sua vida. Apesar disso, o velho gostou da cena, e sempre que pensava naquela comida, se imaginava naquele lugar.

Passados alguns meses, o velho já havia conseguido algum dinheiro, ora pedindo, ora fazendo alguns pequenos trabalhos.
A comida parecia estar cada vez mais perto.

Até que um dia, numa bela noite de inverno, John e seu fiel cão encontravam-se parados na frente da vitrine. Um frio intenso cobria toda a cidade. Para John, isso não importava. Precisava vê-la para dormir em paz. "Um dia... um dia..." falava baixo, "um dia vou ter você".
John parou de falar no momento em que seu cão começou a latir, como que avisando que algo estava estranho.
Uma mulher se aproximava dos dois, olhando-os fixamente. "Sei que você vem aqui todas as noites. Por quê?", disse a jovem senhora. John não respondeu. Apontou o dedo para a vitrine e abaixou a cabeça.
A mulher, espantada, silenciou-se por alguns segundos. Em seguida, tirou algum dinheiro da bolsa e o entregou ao velho. John olhou para a mão que segurava as notas, pegou-as e, imediatamente, começou a contá-las. "Que falta de educação. Além de ganhar, quer saber o quanto", disse a mulher em tom agressivo, já andando pela rua. "Espere senhora", gritou o velho. "É que eu não preciso de tudo isso. Já ajuntei uma boa parte, e só me falta isso pra comprar a comida. A senhora pode levar de volta o resto. Muito obrigado."
A mulher, agora envergonhada, não pegou o dinheiro de princípio, mas logo aceitou a devolução e caminhou até se perder pela rua. O velho não acreditava naquilo. Seu cão pulava e latia, é claro que ele sabia o que estava acontecendo.

John andou rápido até a estação de trem. Com o trocado que tinha, banhou-se, penteou-se. Não iria degustar a comida vestindo roupas sujas, tampouco sem ter se banhado.
Após terminado seu ritual, o velho finalmente entrou pela loja, trêmulo, com a pernas bambas, envergonhado.
E foi ali mesmo, dentro daquela loja, que John realizou seu sonho. Degustou cada pedaço, cada mordida. Sim, era mais do que havia quisto.
John não queria sair de lá, porém, sabia que não tinha mais dinheiro pra permanecer na loja. Saiu, olhou para seu cão que, pacientemente o aguardava na entrada, e saiu caminhando pela rua.

Satisfeito, sim, embora uma pequena tristeza crescia em seu peito a medida que digeria sua comida. "Essa mendiguez que me deprime," pensou. "Esse sentimento mendigo, esse querer muito, esse desejar em excesso, essa luta diária," suspirou, "para que tudo se acabe em alguns minutos".

Seu maior desespero, na verdade, era seu inconsciente sabendo que, para ter aquele momento de volta, ele precisaria passar por tudo aquilo de novo, sem ao menos saber se um dia conseguiria.

Seu cão, andando atrás do velho, tinha a cabeça abaixada. Seu olhar melancólico certamente pedia à John que, da próxima vez, lembrasse de guardar um pedaço pra ele.

Published on July 02, 2008