terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ensaio de uma vida de merda




Eu tenho um blog. (Dãh)
Sou seguida no twitter.
Sou vista e opinada no facebook.
Inacreditavelmente ainda tenho um perfil no orkut.
Estou no linkedin.
Tenho dois MSNs.
Sou cliente prata do par perfeito.

Como sempre eu me pergunto: Pra quê? Será que precisa de tanta coisa assim só pra dizer que eu tenho uma vida de merda?

Sou pseudo-escritora. Devo ter mais textos que leitores hoje em dia. Não sei pra que ter tantas páginas com as minhas experiências e opiniões se a cada dia chego à conclusão de que minha vida é a coisa mais ordinária que eu conheço. A mais merda, a mais fétida.

É um agregado de memórias esfumaçadas na minha mente. Um passado distante, mas que ainda inspira textos e frases de até 140 caracteres.

Mas o presente é rotineiro. É igual. Sempre.
Nada a reclamar de verdade. Nenhum problema realmente sério. Família, dinheiro, amigos, vida social, trabalho, espiritualidade, amores, tudo bem, tudo estável.

Reclamo do calor. De fome, da chuva, de cansaço, do cheiro no ônibus, do último filme ruim do Shyamalan, de gente que pensa diferente de mim, de paqueras mal-sucedidas, e de falta de sexo. Nada que realmente importe de verdade. Futilidades de alguém de vida estável.

E onde então se encontra aquela mulher ‘doidona’, que tem frases de efeito, boca suja e sempre dá a entender que passou a noite numa suruba de 390 pessoas bezuntadas em azeite de oliva? Hein?

Pra que manter essa imagem? Na vida real eu sou apenas aquela menina sozinha lendo um livro num canto escuro de uma cafeteria. Sou aquela que foge pro Ibirapuera no meio da tarde quando precisa ouvir o silêncio. Sou aquela que come chocolate escondida, achando que assim não engorda. Sou aquela que chora enquanto toma banho. Sou aquela que reza duas vezes por dia, e quando esquece tem medo de ser punida.

Caralho. Eu sou normal. Minha vida é normal.

E o que está fora do lugar então? Por que me sinto tão diferente?
É diferente por dentro.
É fácil ser diferente agindo de forma diferente, se penteando diferente, se vestindo diferente. É simples.
Difícil é ser diferente agindo como um normal, tendo uma vida regrada, um trabalho corporativo, e participar de uma comunidade religiosa.
É conseguir viver em sociedade, aceitar o mundo que vive, respeitar as vidas alheias, e mesmo assim ser diferente, pensar diferente, ter opiniões diferentes.

Minha vida é de merda, é sim. Como a de todo mundo.
Sempre lutei contra isso, nunca achei que teria uma.

Hoje eu gosto dessa merdinha que vivo. Dessa rotina cheia de planejamentos metódicos e assertivos. Desse dinheiro controlado, e horários marcados. Essa merda de rotina me faz bem.

Resignação.

Eu aceito minha vida de merda.

3 comentários:

  1. Já parou pra pensar se você é essencialmente você ou aquilo que os outros querem que você seja? :)

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  2. Já. Ainda bem que não sou 'essencialmente eu'. rs

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  3. Acho que rotina acaba trazendo um certo controle das coisas...e controle acaba trazendo segurança....e segurança acaba trazendo paz
    quando as coisas são harmonicas e simplismente fluem a gente estranha
    me identifiquei bastante com seu texto!!!
    sempre te achei um ótima escritora
    bjos
    Fabi

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