quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Tudo que precisava saber, Alcione me ensinou na infância

Buscando no tio Michaellis o que a palavra ‘LOUCO’ significa, sinto hoje certo alívio ao saber que, além de tudo que já sabemos louco também significa ser solto e livre. E mais, é o mesmo que alegre, brincalhão, ‘folgazão e galhofeiro’ - seja lá o que isso quer dizer. Contudo, a melhor definição pra palavra é ‘fora do comum’, sinônimo de ‘extraordinário’.

Todos acham que sou louca. Eu mesma afirmo isso a cada três dias, pelo menos.

Sou louca de reclamar tanto, ao passo que levo uma vida boa de verdade. Sou louca porque passei 31 anos da minha vida negando a existência de Deus, e hoje afirmo com afinco a magnitude da grande luz da espiritualidade. Louco que é louco acredita em Deus.* Eu não acreditava. Então, fazia parte do grupo de pessoas ‘muito loucas’. Sou louca porque como chocotone com patê de espinafre. Porque numa sessão de terapia, eu acabo sempre aconselhando a minha terapeuta. Porque entendo de futebol e fórmula 1 mais do que meu pai. Porque não me aceito como deveria me aceitar. Porque mesmo sabendo do meu grau de tranqueirice, ainda tento, em vão, fazer amizades com pessoas que julgo normais e equilibradas. Porque pessoas normais e equilibradas não querem amigos loucos. São apenas cordiais e gentis, porém, nunca tentam uma aproximação maior. Têm medo da minha loucura. Tudo bem, isso não me faz mais sofrer. Já me acostumei a isso. Mas, principalmente, sou louca porque sei que consigo entender e participar de todos os grupos de pessoas que conheço, e gosto de pessoas de todos os tipos. Num mundo como esse isso é muita loucura. Ao contrário dessas pessoas, que se soubessem do que passa na minha cabeça de verdade, torceriam o nariz e esperariam a primeira oportunidade para dizerem: ‘nossa, ela é louca mesmo. ’ Mas eu as entendo. Sem problemas. Hoje em dia, já acham que sou louca porque não gosto de histórias de vampiros que fazem sexo no ‘high-school. ’ Porque leio incessantemente. Porque vejo filmes que ninguém vê. Porque ouço músicas que quase ninguém conhece. Sou louca porque só uso AllStar.

Suficiente? A lista não chegou nem na metade. Mas paro por aqui, antes que eu me convença de que não sou tão louca assim - e isso é loucura da mais 'braba'.

A verdade é a seguinte. Passei a minha vida toda tentando ser igual a todo mundo. Tentando me inserir em grupinhos de pessoas que se protegiam pelas suas estranhices. Depois de algum tempo, resolvi que seria diferente. Que minhas tendências me levavam a buscar por coisas fora do ‘ordinário’. Foi aí que resolvi ser ‘extraordinária’. Hoje busco por um equilíbrio, que em conta gotas começa a surgir em minha rotina. Ainda estou longe disso, mas algo que nunca mudou em mim, nem nas fases mais loucas que vivi, é o fato que tento entender e gostar de todo mundo. Algo que aprendi antes de acreditar em Deus. Um sentimento de equalização ‘socialista’ que veio comigo, de outras vidas.

Tentem me entender. Tentem acreditar que pessoas loucas também podem ser legais. Somos limpinhos, educados, estudados. Mas não somos hipócritas e na maioria das vezes, não temos vergonha nenhuma de assumirmos nossas dificuldades.

Mesmo correndo o risco de ouvir um comentário tipo: ‘Nossa, além de louca ela é depressiva. Tadinha! Precisa de tratamento. ’

Sim, preciso de tratamento, assim como o resto do mundo.
A diferença é que louco que é louco sabe disso. O louco que se diz normal, não.

E assim, o mundo vai evoluindo...

Texto publicado em Outubro de 2009.


*Citação de Tati Bernardi no livro: “To com vontade de alguma coisa que não sei o que é.”

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