sexta-feira, 10 de dezembro de 2010



E então eu estava lá, trancada no banheiro, chorando e lamuriando por alguma coisa sem muita importância. Passei mais de meia hora lá dentro, até que cansei e decidi sair porque estava com fome. Meu ex-namorado, que cozinhava algo pro jantar, olhou bem pra minha cara e disse: ‘Você escolheu isso. Escolhas são perdas. Não reclame.’

Minha vida mudou desde esse dia. Todas as escolhas que tenho que fazer me obrigam a pensar em apenas uma questão: ‘O que eu vou perder com isso?’ Porque acredito que ‘ganhar’ a gente ganha em tudo que faz, e é sempre algo positivo. Mas nunca nos importamos com o que vamos perder. No começo é sempre mais interessante pensar no que ganharemos. Até que o tempo passa, o que ganhamos já não é mais tão triunfante e invejável, e começamos a nos lamuriar com as perdas.

Mais fácil pensar nelas antes de escolher.

Esse ano, meu principal objetivo foi a minha dieta. Perdi grandes momentos de prazer gastronômico, orgias de glicose e picanha com bastante gordura. Tudo bem. A vida não é tão ruim sem isso, mesmo que agora minha vida tenha cheiro de alface e peito de frango grelhado. Ganhei um guarda-roupa novo, uma cor de cabelo nova e alguns tarados me falando besteira na rua.

Escolhi ler. Chego ao final da jornada tendo lido 18 livros. Sendo os melhores ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ de José Saramago e ‘A Elegância do Ouriço’ de Muriel Barbery. Perdi algumas horas de sono dentro dos transportes públicos, algumas horas de ócio total em frente a TV (algo que amo fazer) e ganhei um par de óculos novo.

Escolhi ver filmes de amor. Daqueles românticos mesmo, com final feliz. Perdi um pouco do meu discernimento e dignidade. Tentar voltar a acreditar em príncipes encantados nos emburrece e nos cega um pouco. Encerro o ano com uma lista modesta de 80 filmes vistos. Os melhores: ‘Onde vivem os monstros’ de Spike Jonze e ‘Bastardos Inglórios’ de Tarantino.

Escolhi fazer companhia pros meus pais, continuar cinica e hipocritamente acreditando no celibato, ajuntar dinheiro, passar filtro-solar três vezes ao dia, rezar ao acordar e ao dormir, ter mais amigos heterossexuais, continuar meus estudos filosóficos, científicos e religiosos, não dançar, não reclamar tanto e não me culpar pelas dores do mundo. Escolhi crescer um pouco. Escolhi ser gente grande.

O que eu perdi?

Esse ano de 2010, eu perdi minha adolescência. Essa adolescência que arrastei por mais de 20 anos. Essa fase que deveria ter terminado há 14 anos atrás. Perdi um pouco daquele espírito aventureiro, birrento, impulsivo, luxurioso e orgulhoso. Perdi um pouco da coragem. Mas ganhei o medo. Algo que nunca tive. E isso me mantém mais centrada. O medo me dá a quase certeza que eu escolhi um caminho mais sereno, mais focado e com mais chances de ser bem sucedido.

Que esse medo me acompanhe ao longo do ano de 2011. Que eu continue perdendo em todas as minhas escolhas futuras.

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