Não posso mais negar. Minha vida chegou na triste estatística
de que o virtual e o real se igualaram. 50/50. #FiftyFifty.
Percebi isso numa semana de muito trabalho. Precisava de
concentração total, tamanha responsabilidade que me foi atribuída. Decidi que
não passaria mais de vinte minutos por dia nas redes sociais (3 que eu visito
frequentemente, pra ser mais exata) e passaria as outras 23 horas e 40 minutos
focada no trabalho. Claro, não abri mão dos emails e mensagens de texto via
celular. A diferença é que seriam conversas e mensagens privativas, e não na
calçada pra todo mundo ouvir, curtir ou não curtir, compartilhar ou julgar.
Resumindo, voltaria a ter uma vida normal. #timetogrowup
E tudo se tornou banal. Coisas simples que se tornariam
grandes eventos se fossem posts, voltaram a ser coisas simples. Tudo fica
rápido, passa rápido, você esquece rápido. Se for publicado, você vai ficar
dois dias falando sobre o ‘tal fato’. Vai ficar se remoendo, ou se divertindo
por muito mais tempo. Falar sobre a rotina na rede social faz tudo ficar mais
longo, eterniza aquilo que simplesmente deveria passar. #YeahLoser
Deixar de dividir sua vida com seus (hoje) 668 amigos por
alguns dias é estranho. No primeiro dia não fez muita falta. A empolgação com o
projeto, as idéias, as novidades, as novas amizades, tudo isso ocupa muito
tempo. Não vou negar que antes de dormir eu respondi algumas mensagens inbox e
dei uma olhadinha nas páginas dos meus ‘preferidos’. #closefriends. No segundo
dia, não resisti. Postei uma das coisas que mais amo. Foto do cotidiano. Dei
feliz aniversário – contrato social, é necessário. #Foco. Mais um dia sem acesso.
Tudo está sob controle.
O meu “about me” diz que sou chocólatra. Aí eu experimento um dos melhores chocolates
da minha vida. Mais uma foto. #Recaída.
Aí, alguém me liga. E me diz que estão me xingando no
‘feice’. Pobre, feia e fedida, pra ser mais exata. #triste. Tive que acessar pra separar grupos,
excluir e bloquear pessoas. Faz parte do mundo virtual não ter medo de fechar a
porta. Faz parte simplesmente fechar os olhos e os ouvidos. E
continuar a viver da melhor maneira, sem desejar o mal de ninguém e focar em coisas que ajudem na evolução. São pessoas boas porém, solitárias. Confesso que eu cancelo assinaturas de
preconceituosos em geral, religiosos fanáticos, game maníacos, corinthianos
chatos, e claro, quem posta fotos de cachorro morrendo e criança com bolotas
vermelhas saltando pelos olhos. Sou seletiva e tenho grupos que recebem as informações
que eu quero que recebam. #prontofalei #sorry.
Passada a vergonha alheia, voltei ao foco. Sem rede social. Achei
que ia ter febre, que ia perder a fome (#há), que ia aumentar as doses dos
antidepressivos diários. Que nada. Dá pra viver muito bem sem estar o tempo
todo querendo saber o que seus amigos estão fazendo. Existe o telefone, existem
os cafés na Augusta, existem os restaurantes deliciosos do Itaim. A diferença é
que tudo passou rápido, e com certeza vou esquecer num futuro próximo.
Juro que minutos antes de voltar a acessar aquela rede social
#docapeta, eu pensei em deletar a conta, e simplesmente continuar a viver
apenas a vida real. Não consegui, claro. Mas já foi um ensaio. E eu gostei. Um
dia isso acontecerá de verdade, eu sei, mas por enquanto não consigo viver sem.
Ainda quero que as coisinhas bestinhas da minha rotina se
tornem piadas com ‘27 comments e 18 likes’. Ainda quero mostrar pra todo mundo
meus amigos queridos, minhas comidas preferidas, os filmes que vejo, as músicas
que ouço, e demonstrar meu amor para o meu amor publicamente. Ainda sou
egocêntrica o suficiente pra #ADORAR um drama, um exagero e uma piada ácida.
Sou boa nisso. Quando quero. Ainda sou imprevisível e instável. E eu preciso
das redes sociais exatamente pra isso. #Confesso, eu adoro um público.
Coisas de quem sofreu bullying a infância e adolescência
inteiras, e quando chegou aos 30 descobriu que é uma pessoa especial – e o
melhor, no bom sentido.
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