Semana de aniversário é sempre a
mesma lamentação. Porque estou ficando velha, porque ninguém me ama, ninguém me
quer, eu sou uma fat-bitch-loser, minha vida é uma porcaria e estou entediada.
É uma semana de reclamações online pros coitados que me lêem e tentam me motivar,
é uma semana de chororôs pros coitados que trabalham comigo, é uma semana de
mensagens de todos os tipos convidando todo mundo pra fazer qualquer coisa, só
porque estou ficando velha e neurótica e acho que preciso aproveitar mais a
vida.
Me arrependo de não ter
frequentado mais a academia, menos a biblioteca, mais a igreja e menos A Loca.
Digo que queria ser alienada e bombada, que seria mais feliz do que ser essa
nerd que se veste estranhamente. Penso nas besteiras que as pessoas que estão
prestes à morrer pensam. Aqueles arrependimentos idiotas. Só causam câncer. Agora, com a maior sinceridade e menor modéstia do mundo, vamos falar a verdade.
Pra começar, eu moro em São
Paulo. Num lugar que um monte de gente gostaria de morar hoje em dia. Sou
nascida, crescida e engordada numa cidade incrível. E mesmo assim, eu reclamo
de tédio. Como alguém consegue se entediar numa cidade com mais de 10 milhões
de habitantes?
Tenho os melhores amigos do
mundo. Os mais inteligentes, inspiradores, cultos, engraçados, cínicos e
desajustados. Um monte de gente adoraria ter os amigos que tenho, eu sei disso.
E mesmo assim, eu reclamo de solidão. Como alguém consegue reclamar de solidão
recebendo o carinho que recebe diariamente?
Já morei fora. Nova York fez
parte da minha rotina durante um bom tempo. Conheci o verão da Califórnia e
pude ver de perto a maldita Hollywood, aquela desgraçada que me fez acreditar
nas besteiras que eu, no meu subconsciente, ainda acredito. Conheci a natureza
selvagem do cerrado brasileiro e estou prestes à andar pelo calçadão de
Copacabana ouvindo as trilhas sonoras da cafonice de Manoel Carlos. Em breve
verei o foggy londrino e a Casa Rosada. E mesmo assim, eu reclamo que sou
geograficamente limitada. Vai à merda, Regina.
Falo uma língua que as pessoas
andam pagando caro pra aprender. Mas, me envergonho por não ser fluente na
língua de meus antecendentes, só pra poder conversar com os mais velhos da
família. Puro exibicionismo.Tenho uma família de comercial de margarina. Sério. Quem conhece minha família sabe o quanto somos unidos e rimos juntos. O quanto nos ajudamos e nos respeitamos. Tenho pai e mãe vivos. O que pra minha idade é um privilégio, sim. E mesmo assim, eu reclamo porque ainda durmo numa cama de solteiro.
Eu tenho alguém que me ama. Não um amor qualquer, daqueles submissos e manipulativos. Alguém que me ama sem esperar nada em troca. Alguém que cuida de mim há tantos anos, que me protege, que me aquece e me preenche. E mesmo assim, eu sou mal-amada e indesejada.
Eu trabalho com o que amo. Eu não
pago aluguel. Meu nome está limpo. Eu voltei a andar depois de meses travada
numa cama. Eu corro 4 km ‘de boa’. Eu não tenho prestação atrasada das Casas
Bahia. Eu não preciso mais comprar roupas na Palank.
Eu acredito em Deus. Eu sou
Espírita. Quem tem religião não tem o direito de reclamar da vida. Eu sei disso. E mesmo assim, eu
reclamo.
Eu mereço tudo de ruim que
acontece comigo.
Inspirado em um post de uma amiga sobre um evento da "Virada Cultural - SP - 2012": se você mora em sp e não está no show do seun kuti por livre e espontânea vontade você merece tudo de ruim que te acontece.
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