Esse livro caiu em minhas mãos porque alguém o leu (nesse
caso, meu melhor amigo) e me emprestou dizendo: ‘a história é bobinha, mas os
personagens são incríveis’.
Começar a ler um livro sabendo que ele é a consequência de
uma fase de bloqueio e buscas de uma autora/cineasta/roteirista/diretora americana,
de 35 anos, moradora de Los Angeles e procrastinadora é um alívio pra quem tem
uma vida medíocre como eu. Uma autora/cineasta/roteirista/diretora também tem
problemas de buscas, também senta na frente do computador achando
que a ideia genial virá a qualquer minuto, e depois de mais ou menos uma hora a
única coisa que conseguiu fazer foi jogar o próprio nome no Google umas 80
vezes. O roteiro do seu filme não se desenrola, ela não tem inspiração. Cansada,
mas escrava, do mundo virtual, Miranda vai atrás de vida real. De gente real.
De histórias que ninguém saberia se ela não tivesse respondido aos anúncios de
um jornal chamado PennySaver.
Miranda ofereceu 50 dólares por uma hora do tempo daquelas
pessoas que anunciavam no jornal. Explicava que era apenas uma entrevista
simples, pra algo que não existia. Queria saber o motivo de elas estarem
vendendo os objetos anunciados (jaqueta de couro, girinos, filhotes de gatos,
álbuns de fotos, cartões de Natal) e fazia perguntas sobre suas vidas.
Ao longo das entrevistas, vamos entrando num mundo paralelo,
porém real. Mais real impossível. A cada pessoa entrevistada, encontramos um
pouco de nós mesmos. Comparamo-nos, detestamo-nos, envergonhamo-nos. Emocionamo-nos.
Anônimos, solitários, sonhadores. Pessoas que parecem morar aqui do ladinho de
casa. Pessoas que têm em comum algo surpreendente, desses ‘algos’ da vida que
vêm como uma bênção em nossos caminhos tortuosos e solitários. Gente que faz a
gente não se sentir tão sozinho dentro de todas as esquisitices possíveis e
imagináveis de alguém como eu.
Esse foi um dos poucos livros que fiquei triste porque
acabou. Não triste pela história do livro. Mas eu não queria que as entrevistas
tivessem chegado ao fim. Chorei por Joe, por Miranda, mas principalmente por
Carolyn.
Meu escolhido foi Domingo. Nada, ninguém, em momento algum
da minha vida vai me surpreender como ele.
Recomendo a quem precisa de mais vida real.
Título: O escolhido foi você
Autor: Miranda July
Ano: 2013
Páginas: 218
Editora: Companhia das Letras