sábado, 4 de junho de 2016

Do meu último ano - do meu coração rebelde

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Ouvi Chandelier da Sia todos os dias. Religiosamente. Por quê? Não sei. Só sei que ouvi. Sissy that walk da RuPaul foi a música que eu ouvi todos os dias pela manhã, exceto no período que morei fora. Lá eu ouvia o que os outros estavam ouvindo. Era hora de conhecer coisas novas.
Foi o ano de Rebel Heart e de chorar ouvindo True Blue ao vivo depois de tantos anos.

Foi o ano de Cate Blanchet e sua magnífica Carol. Não houve filme mais lindo que esse.
Foi o ano de Homeland, sem dúvidas. Com duas temporadas arrebatadoras, depois de um final incerto na terceira temporada. Carrie Mathison é ainda a personagem feminina de séries ‘modinhas’ mais forte, mais humana e consequentemente, mais complexa.
Foi o ano de Rainhas. Drag queens. Ano de Bianca del Rio e Violet Chachki. De Bob The Drag Queen e Chichi Devayne. De autoestima e amor próprio. Coisas que se aprendem quando você entra num universo tão rico, tão cheio de vida e alegria, tão cheio de arte, mas que noventa por cento da humanidade marginaliza, ridiculariza e se envergonha.

Foi o ano de Paulo e Estevão. De uma leitura que machuca a alma e ao mesmo tempo te levanta de qualquer lamaçal que tenha se enfiado.

Das estradas, claro, todas rumo ao Sul. Todas que me levaram à vida que eu escolhi ter de vez em quando. Que me levaram ao mate, à fogueira, ao amor livre e ao direito de ser quem você quiser ser. Eu era uma babá. E também muitas outras coisas que não convém citar aqui.
Ano das águas geladas do Uruguai, e ano das águas mornas do litoral paulista. Foram nove praias no total. Algumas montanhas e todos os nasceres e pores de Sóis possíveis e imagináveis.
Foi o ano de começar em uma escola de idiomas na Augusta. Foi o ano de largar tudo (de novo), aceitar um trabalho em Punta del Diablo e descobrir intimamente as belezas do Uruguai. E da Alemanha, da Turquia, da Espanha , da Holanda, e principalmente da Argentina. Tinha o mundo inteiro se reunindo todas as noites em volta da fogueira pra contar histórias. Voltando pras minhas terras, vivi. Tudo o que quis. Largaria tudo de novo pra viver tudo isso de novo. Nunca me abandonarei atrás de uma mesma mesa por anos e anos, estagnada e sonhando com uma vida que eu nunca vou ter. Nunca me deixarei dentro de um aquário observando o mundo que passa a minha frente. Nunca permitirei que o comodismo me impeça de viver. Nunca permitirei que os meus sonhos sejam podados pelos sonhos dos outros.

Foi o ano da paz e da leveza do perdão. Paz essa conseguida em trabalhos comunitários, em trabalhos de amor e uma tentativa (ainda que um pouco falha) de altruísmo. Paz essa conseguida depois de entender que do nada a gente pode deixar esse mundo. Então que sejamos os mais honestos que pudermos e que consigamos olhar um pouco pra fora do nosso próprio umbigo. Foi o ano da alimentação saudável e da tentativa de uma vida saudável. Nem tanto, nem sempre. Mas tentei.
Começo meu novo ano sem chefe, sem horário fixo, sem crachá. Livre das corporações, hoje trabalho com moda – mas prometo não me tornar fútil. Começo dando algumas aulas particulares, palestrando, fazendo consultorias, traduções, academia, crochê e sexo de vez em quando. 

Recomeço algumas parcerias perdidas com o tempo.

Já com duas viagens agendadas, começo redescobrindo estradas, mares e céus. Com algumas paixões no peito, vou levando a vida tentando não machucar ninguém. Principalmente a mim mesma.

Fotografei e continuarei fotografando. Sempre. Até o próximo ano. 

E que, de novo, ninguém me tire de mim.

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