quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sobre os 104



Porque eu já pesei 104 quilos. Porque eu já não me amei a ponto de pesar 104 quilos. É por isso.

É por isso que sou insegura. É por isso que eu finjo o tempo todo uma alegria inexistente. Aprendi a levar tudo com bom-humor. Era mais fácil rir de mim mesma do que chorar com as piadas maldosas dos amigos do ginásio. Me protejo com um certo tipo de ironia que todos se identificam. A eterna busca de pertencer a um grupo. Uma vez que quando pesei 104 quilos eu não pertencia a nada. 

Nem a mim mesma.


É por isso que eu não acredito. Não acredito que alguém vá gostar de mim de verdade. É por essa insegurança, essa dor remanescente, esse grito de quem nunca encontrou o que buscava, esse trauma de quem já pesou 104 quilos.  Essa consciência de quem conheceu todas as piores formas de rejeição existentes na humanidade.

Esses quilos já não existem mais. Há muito tempo. Mas eles permanecem como uma sombra. Algo que ninguém vê, apenas eu. Eles estão aqui dentro de mim, e continuam fazendo com que a dor incomode e me faça a cada dia não querer mais me ver, querer sumir.


Porque dói ser eu. Dói ter a minha história. 
Dói lembrar do que eu lembro. 
E ninguém imagina o quanto.



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