terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Palco

Há tempos não escrevo desse jeito. Não digo em relação a forma de se escrever. Mas desse jeito que me sinto agora. Um ano começa agora, e há tantos desejos de tantas coisas. Há tantas pessoas felizes, sorrindo nas fotos, mostrando suas roupas brancas e novas. Há tanta festa e tantos fogos. E por quê? Por que ainda, nesse século, precisamos comer lentilhas, usar branco, pular ondas? O que é sorte senão o acaso?

Numa data criada simplesmente por uma questão de organização? Nessa necessidade do ser humano de ter o que contar. Números, meus amigos. São apenas números.
E eu, mesmo sabendo disso, mesmo acreditando que nada muda só porque o ano mudou, mesmo não dando a mínima pra todo esse circo, não contenho as lágrimas de ver fogos de artificio. Talvez, uma lembrança de uma infância sem cores. Talvez.
A vida não recomeça a cada ano.

O sono é um ensaio pra morte. Acordar é subir aos palcos todos os dias, abrir as cortinas e representar o papel que bem entender. Haverá públicos diferentes todos os dias, emoções, sabores e dissabores todos os dias. Todo dia é um recomeço. Chegará também o dia em que não haverá ninguém. Ou aquele em que você não vai querer se apresentar. Mas o palco, o público e as cortinas estarão lá. Até o dia em que ela não se abrir mais.

É por isso que todos os dias, eu me olho no espelho, penso no meu figurino, nas minhas falas e nos atores que subirão comigo. As cortinas estão sempre abertas.

Há tempos não subo nesse palco. Fico presa nos bastidores. Circulando seminua, esperando que vontade de atuar volte. Nao há público, não há atores contracenando. Mas as cortinas estão abertas. O palco vazio e silencioso.

Ninguém me espera, mas tudo me aguarda. Quando eu tiver coragem de novo. Por enquanto, eu só existo quando ninguém me olha.

O silêncio é a melhor forma de se mostrar respeito ao que é individual.

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